10 dez, 2024
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7 boas práticas para salões de cabelos cacheados e crespos

Nos últimos anos, cresceu o interesse dos brasileiros pelos cabelos naturais; também ganhou força a busca por profissionais especializados em cachos.

Nos últimos anos, cresceu o interesse dos brasileiros pelos cabelos naturais; também ganhou força a busca por profissionais especializados em cachos

Erika Lobo: “Houve um movimento de valorização da diversidade e da autenticidade, o que inclui diferentes tipos de cabelo. Isso levou as pessoas a abraçarem seus cachos naturais e a se sentirem mais confiantes em exibi-los”
Foto: divulgação

“Em terra de cabelo liso, quem tem cacho é rainha!” Você com certeza já ouviu essa frase, nem que seja em uma propaganda nos veículos tradicionais ou redes sociais. Isso porque os cachos estão com tudo, e não estamos falando só de uma moda, mas da luta contra o preconceito e pelo empoderamento das raízes culturais africanas, fenômeno que vem se fortalecendo ao longo dos últimos 15 anos como resultado das ações do movimento negro e em prol da diversidade.

Também não estamos falando só de identidade e pluralidade, mas de oportunidade de negócio, lucratividade e posicionamento de marca. Segundo a pesquisa realizada pelo Instituto Beleza Natural em parceria com a UnB (Universidade de Brasília), 70% dos brasileiros apresentam cabelos cacheados, crespos ou ondulados.

Já um levantamento divulgado pelo Google em 2021, realizado com base nos resultados das buscas feitas pelos usuários, aponta que há no Brasil um movimento de adoção de penteados tradicionais como forma de expressão e orgulho e como resistência à posição do cabelo liso e longo, que estão ligados a uma ideia de feminilidade tradicional. O adjetivo “afro” representa 36% de todas as buscas feitas sobre cabelos. De 2015 a julho de 2017, as buscas por transição capilar – período em que nenhuma química é usada até o crescimento total do cabelo natural – subiram 55%.

“Nos últimos anos, houve um movimento de valorização da diversidade e da autenticidade, o que inclui diferentes tipos de cabelo. Isso levou as pessoas a abraçarem seus cachos naturais e a se sentirem mais confiantes em exibi-los”, fala Erika Lobo, diretora-executiva na Vici Produções e Eventos e idealizadora do evento Hair Brasília and Beauty.

Quem atua comemora os resultados
De olho nesse filão de mercado, as empreendedoras Ana Paula Santos e Alessandra Feminella abriram, cada uma, salão de beleza destinado a mulheres com cabelos crespos, cacheados e ondulados. A missão é elevar a autoestima das cacheadas.

“O que me motiva é mostrar para tantas mulheres – que não gostam de seus cabelos porque a sociedade impôs isso – a beleza de seus cachos, o poder que eles dão a elas, o empoderamento. Aqui no salão não aceitamos nenhum tipo de química de alisamento ou alinhamento capilar”, fala Ana Paula, dona do Efáta Salão de Beleza, localizado em Cidade Ocidental (GO).

A história de Alessandra Feminella é bastante curiosa: a empresária nasceu com cabelo liso e com 13 anos seus cabelos começaram a cachear. Como não sabia cuidar da nova textura capilar e ainda, nos anos 80, não havia produtos específico para cabelos cacheados, passou a não gostar dos seus cachos e a realizar procedimentos de alisamento. “Não tem como gostar de seus cabelos vivendo com aquela dificuldade e (sem) a rotina diária para deixá-lo esteticamente aceitável”, conta.

Ana Paula Santos: “O que me motiva é mostrar para tantas mulheres a beleza de seus cachos, o poder que eles dão a elas, o empoderamento”
Foto: arquivo pessoal

“Na época, só existia as opções selante, relaxamento e alisamento. Ninguém falava sobre como deixar seus cachos definidos e tipos de produtos para deixá-los mais volumosos ou domados. Era tudo muito restrito e limitado para quem era cacheada”, lembra também Ana Paula.

Alessandra Feminella não só descobriu como deixar o cabelo natural bonito, como hoje fatura com o comportamento de consumo das brasileiras. Tudo mudou em um intercâmbio nos Estados Unidos. Alessandra Feminella descobriu lá os estabelecimentos especializados em ondas e voltou para o Brasil com os seus cabelos cacheados e uma certeza: ia investir no segmento de beleza. Em 2012, abriu o Studio dos Cachos em Florianópolis (SC), para incentivar mulheres a descobrirem sua melhor versão encaracolada, respeitando sua individualidade.

E não parou aí: escreveu artigos e livros para quebrar crenças de que o cabelo cacheado é trabalhoso e que não há no mercado produtos para atender essa demanda; e desenvolveu a linha de tratamento Stuca, que atende distintas combinações para atender as particularidades de cada cacho. O lançamento deu tão certo que a empresa já começou o processo para exportar os produtos cosméticos.

Mercado em expansão
Com a evolução tecnológica do setor de cosméticos e das técnicas de cuidados e cortes de cabelo, surgiram produtos e profissionais especializados em cabelos cacheados e crespos, inclusive para as várias texturas de fios que este grupo tem. A produtora de eventos Erika Lobo destaca a importância desse nicho no mercado.

“Pesquisas feitas por diversas marcas de cosméticos apontam que de 50% a 56% da população feminina do Brasil possuem cabelos que variam de ondulados a crespos. O mercado, olhando para essa população e entendendo as necessidades reais de cada indivíduo, está fazendo com que as mulheres se sintam cada vez mais seguras de se aceitar como são”, avalia, ressaltando também que o segmento gera mais empregos e renda no país.

“O crescimento no número de especialistas e estabelecimentos focados nos cabelos cacheados cria oportunidade de trabalho, emprego e renda para profissionais treinados e experientes, além de movimentar a produção industrial especializada”, acrescenta Erika Lobo.

A cabeleireira e influencer Bianca Hulmann fatura R$ 7 milhões com salão e cursos profissionalizante de cachos. Aos 16 anos, tinha feito um curso de cabeleireiro e se especializado em cabelos loiros e coloridos. “Mas passei por transição capilar, do alisado para o meu cabelo natural, e senti falta de salões especializados no assunto. Vi que tinha muita gente passando por essa transição e comecei a me especializar”, contou para o portal Empresas & grandes negócios.

Ao descobrir a beleza de seus cachos, Alessandra Feminella se viu diante um mercado em expansão, e hoje fatura com o seu salão e linha de produtos especializados
Foto: divulgação

A empreendedora estudou e adaptou técnicas e começou a atender clientes com cabelos com curvaturas e ondas. Com o crescimento da demanda, saiu de um pequeno salão que tinha no bairro Chácara Klabin, na capital paulista, para uma unidade de três andares na Aclimação. “Comecei a postar muito nas redes sociais as fotos desses cabelos que eu fazia, e as pessoas começaram a agendar comigo. Foi natural”, relata.

Hoje, o carro-chefe do salão é as mechas sem descolorante, que conseguem clarear os cabelos cacheados sem danos e sem perder a curvatura. A técnica representa 75% do faturamento do salão, que em 2021 foi de R$ 250 mil por mês, em média. No ano passado, a empresária empregava 31 funcionários em duas unidades do beauty saloon e nas capacitações online.

A alta na procura pelos fios naturais reflete o crescimento do nicho de cachos no mercado. O gerente de Marketing do Instituto Embelleze, Eduardo Costa, disse para o portal Sua Franquia que o profissional especializado em cabelos crespos e cacheados consegue uma renda mensal de até 6 mil reais.

“É cada vez maior o número de mulheres que buscam por um profissional especializado em cachos, mas ainda há inúmeros os salões de beleza que trabalham com os procedimentos padrões dos cabelos lisos e não conseguem atender este público. É neste momento que surge a oportunidade de negócio”, afirma o gerente de Marketing.

“A indústria tem um papel fundamental nesse crescimento. Ela desenvolve e disponibiliza produtos específicos para cachos, investe em pesquisas e inovações tecnológicas para atender às necessidades dos cabelos cacheados”, destaca a idealizadora do Hair Brasília.

Dicas para salões especializados em cabelos cacheados e crespos
E para quem deseja ter sucesso com as cacheadas e os cacheados, a Erika Lobo traz quatro dicas para começar e ter um negócio de sucesso. “Cada negócio é único, portanto, é válido adaptar essas dicas à realidade específica da sua empresa e aos valores da sua marca”, orienta.

1. Pesquise o mercado
Identificando as necessidades e preferências dos consumidores de cabelos cacheados. Com base nesses insights, é importante selecionar e oferecer uma ampla variedade de produtos específicos para cachos, como shampoos, condicionadores, finalizadores e acessórios.

2. Fique de olho nas novidades
Esteja sempre atualizado sobre as tendências e inovações no mercado de cabelos cacheados, para oferecer produtos e serviços atualizados. Além disso, identifique seus concorrentes, oportunidades de diferenciação e inovação no mercado de cabelos cacheados.

3. Promova parcerias comerciais
Estabeleça parcerias com influenciadores e especialistas em cabelos cacheados para promover os produtos e compartilhar dicas de cuidados.

4. Realize eventos
Realizar eventos ou workshops focados no cuidado e estilização de cachos também pode ser uma estratégia eficaz.

5. Seja inclusivo e valorize a diversidade
Vale também apostar em uma comunicação inclusiva e representativa em todas as campanhas de marketing. Para Erika Lobo, isso é essencial para estabelecer uma conexão autêntica com o público-alvo.

6. Mantenha o bom relacionamento com seu cliente durante e depois da venda
Priorize um atendimento personalizado e acolhedor, criando um ambiente onde os clientes se sintam compreendidos e bem cuidados. Esteja aberto a receber feedbacks, e busque constantemente melhorar seus produtos e serviços com base nessas informações.

7. Não se esqueça de fortalecer a sua comunidade
Cultive uma comunidade em torno da sua marca, criando espaços online ou offline onde os clientes possam compartilhar experiências, dicas e se sentir parte de uma comunidade unida pelo amor aos cachos.

Edição: Fernanda Peregrino