Tais Cundari*
Apesar das fortes turbulências que o Brasil ainda enfrenta, alguns mercados seguem confiantes de que o país está no rumo certo para a retomada econômica.
Taxas de juros nas alturas, cargas tributárias abusivas, inadimplência em ascensão e índice de desemprego inédito são desafios importantes, mas não devem restringir nossa capacidade de olhar além.
Afunilando essa análise para o setor de varejo, atacado e serviços, mesmo com as vendas em queda, temos percebido certa elevação nas contratações profissionais, reflexo do desengavetamento de projetos e do descongelamento de investimentos. Depois de todos os cortes possíveis nos anos anteriores, chegou o momento de garantir a competitividade dos negócios e focar em uma gestão voltada para o mercado e não apenas para o custo.
Muitas dessas demandas decorrem das dificuldades financeiras que os varejistas estão enfrentando, seja por uma gestão inadequada no passado, seja por ineficiência na definição do portfólio de produtos ou na precificação e por escolhas erradas de pontos comerciais ou parceiros/franqueados. Isso só para citar algumas razões.
Assim, muitas empresas precisam reverter a situação por meio de um alongamento de dívidas ou da captação de recursos com operações estruturadas. Contudo, cada vez mais, as instituições financeiras têm dificultado a concessão de empréstimos de longo prazo para empresas endividadas, muito por conta da falta de um planejamento estratégico que passe a segurança de que os pagamentos irão ocorrer sem imprevistos.
Diante dessa dificuldade de conseguir a liberação de crédito, muitos executivos das áreas comerciais das instituições financeiras têm sugerido a seus clientes varejistas que recorram a consultorias estratégicas ou de turnaround para ajudá-los a preparar um plano consistente que forneça aos bancos a segurança necessária para continuarem concedendo recursos.
Considerando que esse tem sido um fato recorrente, talvez seja o momento de acionistas e principais executivos do segmento varejista pressionarem os órgãos governamentais competentes para absorver algum apoio, como aconteceu no passado com empresas de diversos outros setores, que receberam empréstimos subsidiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo.
Outra opção para os varejistas em dificuldade é se apoiarem em consultorias de executive search que os auxiliem de forma efetiva no recrutamento de executivos com perfis diferenciados. Hoje, praticamente 40% das buscas e seleções que tenho capitaneado passam pela área financeira (diretores financeiros, diretores tributários, diretores de compliance e auditoria).
Uma tendência crescente nas empresas nacionais em processo de profissionalização é buscar bons executivos que consigam mapear riscos tributários, identificar oportunidades de ganho e buscar soluções inovadoras para este momento delicado que atravessam.
Essa estratégia deve ser vista não como custo, mas como investimento. A contratação, por exemplo, de um profissional com forte experiência em turnaround pode evitar que algumas dessas empresas entrem fatalmente em recuperação judicial. É um remédio necessário e, o melhor, nem tão amargo assim.
* Tais Cundari é consultora especialista nos setores de atacado e varejo do Fesap Group, consultoria de executive search e de estratégia de capital humano. Representa as marcas Fesa, Asap e Fesa Advisory.