15 maio, 2024
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Busca por alimentos saudáveis é impulsionada pela pandemia

Segundo levantamentos, brasileiros estão em busca de produtos à base de plantas; alimentos mais naturais e menos manipulados; e alimentações com mais proteína, menos carboidrato

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Segundo levantamentos, brasileiros estão em busca de produtos à base de plantas; alimentos mais naturais e menos manipulados; e alimentações com mais proteína, menos carboidrato 

Alimentos naturais, não processados ou que foram minimamente manipulados ganham mais espaço na mesa do brasileiro (Foto: Shutterstock)

Em função da pandemia, cada vez mais pessoas vêm optando por uma alimentação saudável, que fortaleça o organismo e que ajude a prevenir doenças. E alguns levantamentos mostram que a boa alimentação passou a fazer parte dos protocolos contra a Covid-19 de muita gente, além das medidas de higiene e segurança sanitária. Uma pesquisa feita pela Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis) aponta que houve um aumento de 44,5% no consumo de orgânicos durante os sete primeiros meses da pandemia de Covid-19. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) realizou um estudo que apontou que 36% dos consumidores passaram a inserir alimentos e bebidas que consideram ser benéficos para o sistema imunológico. 
 
A crescente procura por alimentação mais saudável também pode ser medida nos mecanismos de busca na internet: entre fevereiro e maio de 2020, a busca por “como aumentar sua imunidade” cresceu 136%, segundo o Google Trends Brasil. “Neste último ano, observamos que o consumidor que compra para a família está comprando mais, diversificando os alimentos. Além das frutas, verduras e legumes, aumentou a procura por arroz, feijão e outros grãos e cereais, por exemplo”, afirmou Luana Pauli. A empreendedora produz e comercializa produtos orgânicos em feiras da Grande Florianópolis desde 2015. 
  
A preocupação com a saúde é uma ótima oportunidade de negócio para a famosa “comida de verdade”, ou seja, alimentos naturais, não processados ou que foram minimamente manipulados. Também abre espaço para os produtos orgânicos e veganos, que apresentam maiores níveis de nutrientes compostos bioativos – produzido pelos vegetais para se defenderem na natureza. Como não são tratadas com agrotóxicos – que inibe o sistema de proteção natural –, os orgânicos são mais ricos em nutrientes e em substâncias anti-inflamatórias, fundamentais para o combate ao envelhecimento precoce e à manutenção da saúde. 
 
O corpo reage diariamente aos ataques de bactérias, vírus e outros micróbios, por meio do sistema imunológico, que é composto por milhões de células, de diferentes tipos e com diferentes funções, responsáveis por garantir a defesa do organismo e por manter o corpo funcionando livre de doenças. E uma boa imunidade é construída com alimentação saudável todos os dias, além da prática de atividades físicas e sono adequado. “Acredito que, após o coronavírus, a população entendeu a importância de se cuidar da alimentação para fortalecer o organismo. E nessa busca por alimentação saudável, perceberam que se deve dar preferência por alimentos ricos em compostos bioativos, ricos em polifenóis, antioxidantes, anti-inflamatórios.  A ingestão desses alimentos contribui para o bem-estar físico, emocional, energético, promovendo a saúde de forma integrada”, diz a nutricionista Isadora Canabarro. 
 
A preocupação com a alimentação saudável não é novidade. De acordo com dados da Euromonitor Internacional, em 2019, o Brasil ocupava o quarto lugar no ranking mundial de alimentos e bebidas saudáveis. Este número deve crescer, este ano. Segundo o Instituto Mapa, só no estado de Santa Catarina, 48% da população pretende aumentar o consumo de produtos orgânicos em 2021. “O número de atendimentos de pessoas que buscam primeiramente a promoção da saúde e que têm a perda de peso como objetivo secundário cresceu bastante no último ano”, pontuou a nutricionista catarinense. 

A carne vegetal se beneficia de duas das cinco tendências: o plant based e a preferência por alimentações mais proteicas (Foto: Shutterstock)

Outras tendências 
Ao analisar 83 mil posts nas redes sociais e quase 20 mil matérias publicadas na internet, levantamento aponta cinco grandes preferências na alimentação dos brasileiros: produtos à base de plantas (plant based); alimentos mais naturais e menos manipulados (clean label); mais proteína, menos carboidrato; uso de suplementos; e equilíbrio entre alimentação saudável e momentos de indulgência (comfort food). O estudo foi realizado em outubro do ano passado pela BHB Foods e Suplementos, plataforma da consultoria Equilibrium Latam, e a Decode, do grupo BTG Pactual. 
 
A carne vegetal se beneficia de duas das cinco tendências: o plant based e a preferência por alimentações mais proteicas. O mercado de proteína de planta é puxado pelo cliente engajado com causas socioambientais, e portanto, que reduz o consumo de proteína animal preocupado com ambiente e a saúde. Estes consumidores são chamados de flexitarianos, pessoas que escolhem reduzir o consumo de produtos de origem animal sem parar completamente. 
 
Este hábito decolou na pandemia, sobretudo entre as mulheres e os mais jovens: pesquisa realizada em 2020 pelo Ibope e coordenada pelo The Good Food Institute (GFI) aponta que 50% dos entrevistados afirmaram ter reduzido o consumo de carne de origem animal em 12 meses. Em 2018, eram 29%. Entre as mulheres, o índice vai a 54% (frente a 44% dos homens); e os mais jovens são 52% do total (versus 43% de pessoas na faixa etária mais velha). A região que lidera o movimento é o Nordeste, com 53%.  
 
Estudo da Euromonitor International realizado no ano passado mostrou que o Brasil é o 16º maior mercado do mundo na categoria de substitutos de carne, movimentando US$ 82,8 milhões em 2020, um crescimento de 69,6% em relação a 2015.  
 
Especialista do mercado plant based e sócio da AGN Consultoria e Negócios, Alberto Gonçalves Neto destaca que a geração de millennials tem contribuído para aumentar as estatísticas. “Eles também se preocupam com a origem do alimento e com o quanto ele está impactando o ambiente e o mundo”, aponta Alberto Gonçalves Neto. 

Brasileiros reduzem o consumo de carne de origem animal, preferindo os alimentos à base de proteína vegetal por razões socioambientais (Foto: Shutterstock)

Plant based 
Os flexitarianos são o principal público-alvo das startups de alimentação (foodtechs) focadas em soluções alimentares plant based. A The New Butchers foi fundada há pouco mais de um ano em São Paulo, e o faturamento cresceu 300% no primeiro trimestre de 2021, em comparação com 2020. “Tivemos um lançamento acelerado em 2019 e continuamos com uma curva de crescimento intenso alinhada ao consumidor, que aumentou a procura por esse tipo de alimento, tem mais acesso à informação e está aberto a experimentar novos produtos. Com a pandemia, a população ficou muito mais consciente de como o nosso consumo afeta o planeta”, avalia Bruno Fonseca, CEO e fundador da foodtech. 
 
Com o aumento das vendas durante a pandemia, a startup recebeu novo aporte da Lever VC, mesmos investidores que apostaram nas colegas vegetais Beyond Meat e Impossible Foods. O fundo americano vai acelerar a internacionalização da marca, que já está presente em grandes varejos, principalmente, das regiões Sul e Sudeste. As negociações no exterior estão mais avançadas na América Latina, Europa e Ásia. 
 
Segundo Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil, já existem mais de 30 marcas (entre análogas e vegetais) com distribuição regional, além de grandes frigoríficos, como a JBS. Mas ainda é difícil quantificar produtores de carne vegetal em nível estadual, podendo ser um número bem maior. “Temos visto pequenas e grandes empresas inovando, entendendo o potencial desse mercado e trabalhando fortemente para entregar cada vez mais o que as pessoas gostam”, explica Raquel Casselli. 
  
Esse é o caso da Venne Vegan, que viu suas vendas, principalmente de carnes vegetais, aumentarem no último ano. Mais de 70% do público atendido é flexitariano. A empresa nasceu em 2016, a partir de uma mercearia familiar em Belo Horizonte e quatro meses depois se transformou no primeiro açougue vegano de Minas Gerais. As carnes vegetais produzidas no local pela paulista Laura Bonetti e sua mãe, Valéria Zamaro, chamaram a atenção de grandes de redes de varejo da capital mineira, como os supermercados Verdemar e Supernosso. Em questão de um ano, a cozinha industrial de 4 metros quadrados se transformou em uma fábrica com cerca de 400 metros quadrados. 
  
“Comecei a fazer as primeiras receitas de embutidos para o Natal da família sem carne animal. Fez tanto sucesso que passamos a vender na mercearia e iniciar um negócio focado em carnes vegetais. O empreendimento cresceu rapidamente e, para atender a demanda, meus pais largaram as profissões e investiram todas as economias na construção da fábrica”, lembra Laura Bonetti.  
 
A empresa recebeu em 2020 um aporte de cerca de R$ 350 mil de uma sócia-investidora. O recurso foi usado para a ampliar a fábrica. Atualmente, com 14 funcionários, produz 1 tonelada de carne vegetal por mês e tem faturamento em torno de R$ 900 mil por ano.  
 
Com informações de Estúdio NSC, PME Estadão e Folha de São Paulo.