Como as MPEs podem cuidar da saúde mental de seus colaboradores?
Colaborador feliz e com a saúde mental em dia produz mais e colabora para que a empresa tenha um bom rendimento.

A saúde mental não é um tema para ser debatido apenas em setembro, mês no qual é realizada, tradicionalmente, a campanha de orientação e, principalmente, de prevenção ao adoecimento da mente e ao suicídio, mais conhecida como Setembro Amarelo. É um assunto delicado que não ficar em segundo plano, ainda mais nas empresas.
Uma pesquisa realizada pela Capita (Content Capita) aponta que 24% dos trabalhadores ainda veem como tabu questões relacionadas à saúde mental. 37% afirmaram que não se sentem confortáveis para assumir para os colegas de trabalho ou até para a própria empresa que precisaram se afastar do trabalho porque estão com depressão, por exemplo, ou qualquer outra questão de ordem psicoemocional. E um número é mais alarmante: 55% dos colaboradores sentem medo de tirar dias de folga para cuidar da saúde mental.

Foto: divulgação
Para o psicólogo e especialista em gestão de pessoas Rudney Pereira, sócio-diretor da BR Talente Consultoria, muitas vezes, a empresa ou o dono do negócio não implementa ações para o cuidado da saúde da mente por achar que é um gasto, contudo, esse pensamento é equivocado.
“Não é um gasto. Muito pelo contrário, é na verdade um investimento. Quando você passa a investir na saúde mental, você vai ter em contrapartida, menos despesa com algumas questões relacionadas, por exemplo, a faltas, assistência médica e outras questões. Além disso, pode aumentar a produtividade daquele colaborador que não estava muito bem, mas que com as ações de prevenção e tratamento teve uma melhora significativa em suas entregas”, comenta Pereira.
Quando o assunto é saúde mental, não podemos deixar de fazer uma conexão com a pandemia. O psicólogo afirma que antes dela, as empresas caminhavam em direção à saúde da mente a passos curtos. Entretanto, com a covid, veio uma situação completamente adversa e delicada, tanto no cenário econômico quanto no emocional. Surgiu ali a necessidade de implementar medidas para ajudar o colaborador a passar por aquele momento.
“A pandemia agravou, mas acabou virando um problema cotidiano. O volume e a recorrência de problemas relacionados a saúde mental começaram a bater na porta e aí as empresas e o varejo tiveram que começar a trabalhar com esse tabu”, avalia o sócio-diretor.
Como cuidar da saúde mental dos colaboradores
O orçamento das MPEs (micro e pequenas empresas) costumam ser mais enxutos, mas isso não impede que realizem ações para que o colaborador se sinta mais acolhido e melhore o ambiente de trabalhar.
“Colaborador feliz e com a saúde mental em dia produz mais e colabora para que a empresa tenha um bom rendimento e consequentemente gera um aumento nos lucros”, comenta Rudney.
Pereira ressalta que questões que afetam a saúde mental podem acontecer com qualquer um, ela é indiferente ao seu cargo e sua posição dentro da empresa. “Eu queria lembrar as pessoas, e isso foi percebido na pandemia, que todos nós estamos no mesmo barco. Essa enfermidade não olha convênio, cargo, local que você mora e até o seu salário, ela não olha pra nada disso. Estamos todos no mesmo barco e correndo o mesmo risco. Se a gente conseguiu aprender algo com a pandemia, é que a gente possa olhar para as pessoas de uma maneira muito mais carinhosa e empática. Aquilo que está acontecendo com o seu colega, chefe ou colaborador, também podia estar acontecendo com você. E você também precisaria de acolhimento, tratamento e respeito”.
Dicas para ter funcionários com a saúde mental em dia
O psicólogo dá 5 dicas para as MPEs implementarem ações para melhorar o bem-estar mental de seus funcionários:
1. Converse com seus colaboradores: assim como é importante saber as dores dos seus clientes, olhar e entender as questões de quem faz tudo acontecer também é importante.
2. Reforce a ideia de espaço seguro: para que o colaborador se abra com o gestor, é preciso confiança. Para isso, deixe claro que esse espaço para conversa não irá gerar consequências, como demissões e que ele, de maneira nenhuma será exposto ou terá as suas questões expostas.
3. Olhe para o que as outras empresas estão fazendo: veja como grandes empresas realizam a gestão de seus colaboradores; quais ações elas implementam para o cuidado com a saúde mental; e como essas ações afetam seus colaboradores. A partir dessas perguntas e respostas, tente trazer para a realidade da sua empresa. “Nessa hora vale ser humilde e perguntar até para o seu concorrente. Chegue nele e explique a situação. Vale também para as grandes empresas”, comenta Rudney.
4. Crie grupos de conversas: como nem sempre é possível investir em assistência médica para todos da empresa, o próprio RH pode assumir e criar grupos de conversa para abordar o tema. Caso a empresa não possua RH, o gestor pode ele mesmo assumir ou designar um colaborador que seja mais comunicativo e empático para assumir essa posição. “Às vezes, só de você criar grupos para discutir este assunto, você já está trazendo para dentro dessa empresa uma cultura de comunicação, de portas abertas e de tratar esse tema de uma maneira muito transparente”, comenta.
5. Conversar é essencial: caso não seja possível investir em assistência médica, invista em assistência profissional para conversar, ao menos, uma vez por mês com todos os seus colaboradores. Procure universidades que fazem o atendimento cobrando um valor social e verifique com os sistemas de saúde pública quais são os dias e de que maneira o colaborador pode conseguir o atendimento. Por fim, ofereça informação e solução.