07 out, 2024
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Crédito: empreendedoras são melhores pagadoras

Apesar de liderarem o índice de adimplência, as mulheres ainda têm dificuldade de acessar linhas de crédito e, quando conseguem, pagam mais caro

Apesar de liderarem o índice de adimplência, as mulheres ainda têm dificuldade de acessar linhas de crédito e, quando conseguem, pagam mais caro

Charys Oliveira: “Os operadores de crédito precisam rever as nuances das suas políticas de crédito, reeducar seus colaboradores que estão na ponta da decisão na concessão de crédito…”

O acesso ao crédito é um dos principais obstáculos enfrentados pelos empreendedores brasileiros – seja homens, seja mulheres –, especialmente, o de micro e pequeno porte e o microempreendedor individual. No caso das empreendedoras, 55% consideram difícil ou muito difícil conseguir crédito no Brasil, aponta pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

O estudo foi divulgado no Dia Internacional da Mulher deste ano e mostra que elas querem crédito para incrementar o capital de giro (38%), pagamento de dívidas (35%), ampliação do negócio (35%) e compra de estoque e insumos (25%).

Charys Oliveira, head de Saúde Financeira da Ahfin – fintech RH que promove educação e benefícios financeiros acessíveis –, traz mais um complicador para a conversa: apesar de o mercado saber que são melhores pagadoras, as mulheres ainda enfrentam dificuldades de conseguir crédito com taxas justas para os seus empreendimentos.

Estudo sobre empreendedorismo feminino, produzido pelo Sebrae em 2019, confirma o que diz a especialista em finanças: a desvantagem para as empresárias é significativa quando o assunto é acesso a crédito e linhas de financiamento. O valor médio de empréstimos liberados para elas é de aproximadamente R$ 13 mil a menos que a média aprovada para os homens. As mulheres empreendedoras ainda pagam taxas de juros 3,5 pontos percentuais acima do sexo masculino. Com relação aos índices de inadimplência, 3,7% das mulheres são inadimplentes, enquanto os homens apresentam um indicador de 4,2%.

“A dificuldade real está nas condições, não na oferta. A meu ver, o que pode ser um motivo, está nas políticas de crédito e análise de perfil que podem ter sido construídas de maneira impregnadas de tabus, preconceitos e pouca diversidade no board de decisores”, pondera Charys Oliveira.

No Banco do Nordeste (BNB), por exemplo, estão adimplentes 92% dos empréstimos destinados a mulheres da área rural – dinheiro advindo do programa Agroamigo e do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste. Para os homens, a adimplência cai para 85%. A instituição financeira divulgou ainda, este mês, que as agricultoras diversificam mais no uso dos recursos, ao investir o dinheiro em culturas agrícolas diferentes, e não apenas em uma só.

“Os operadores de crédito precisam rever as nuances das suas políticas de crédito, reeducar seus colaboradores que estão na ponta da decisão na concessão de crédito… Mas mudanças culturais são mais lentas, enquanto elas estão em processo, as políticas públicas podem sim ajudar a acelerar o crescimento do empreendedorismo feminino”, afirma a head de Saúde Financeira.

O levantamento da CNDL e do SPC apresenta mais um dado interessante: para iniciar o novo negócio, aproximadamente 6 em cada 10 empresárias utilizaram capital próprio (59%). Algumas apelam para o cartão de crédito pessoa física (17%) ou empréstimo familiar (15%). Para dar o ponta pé inicial, as empresárias investiram, em média, R$ 3.010.

“Nesse cenário, as mulheres empreendedoras acabam utilizando recursos próprios como única fonte de investimento. Isso faz com que o crescimento, o parque tecnológico, a equipe e a promoção do negócio fiquem poucos competitivos frente aos concorrentes com mais facilidade de acessar crédito”, ressalta Charys Oliveira.

Brasil Pra Elas
Ciente do problema, o Ministério da Economia (ME) lançou no início do mês o programa “Brasil Pra Elas”, iniciativa que faz parte da Estratégia de Empreendedorismo Feminino e que visa aumentar a oferta de crédito dos bancos federais para as mulheres e aposta na educação empreendedora por meio de consultorias (capacitação e qualificação) do Sebrae.

O Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Banco da Amazônia (Basa) passam oferecer linhas de crédito especiais para micro e pequenas empresas lideradas por mulheres. Haverá apoio de educação empreendedora do Sebrae para quem está começando a empreender e para aquelas mulheres que precisam incrementar seus negócios próprios. O BNB e o Basa atuarão no segmento de microcrédito.

Para estimular mais empréstimos, serão utilizados os recursos do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), que dará garantia de 80% do valor emprestado, ofertando crédito assistido para empresas que possuam mulheres no seu quadro societário.

Linhas para elas
Existem diversos projetos de crédito voltados para o empreendedorismo feminino. Segundo a especialista da Ahfin, o cooperativismo financeiro tem as melhores propostas. “Acredito que seja um ótimo caminho para encontrar políticas de crédito mais interessantes e justas”, acrescenta.

Confira algumas linhas de crédito exclusivas para mulheres empreendedoras:

Crédito Assistido para Elas
Pelo programa Brasil Pra Elas, o Sebrae e a Caixa lançaram o Crédito Assistido para Elas, com condições melhores em relação às taxas de juros, às carências e aos prazos para pagamento. Até o dia 31 deste mês, Microempreendedoras Individuais (MEI), Microempresas (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP) que possuam como sócias majoritárias figuras femininas podem aproveitar a oportunidade.

As linhas de crédito são decorrentes do Fampe, iniciativa que, desde 2020, já liberou mais de 104 mil operações de crédito, somando mais de R$ 7 bilhões em empréstimos para MPEs.

O Crédito Assistido, em parceria com a Caixa, já é uma opção oferecida pelo Sebrae e que tem como objetivo orientar e auxiliar os empreendedores nos processos pré e pós-crédito. Na prática, o Sebrae faz um acompanhamento desde o início, mostrando quais são as linhas de crédito disponíveis e o que a pessoa precisa fazer para contratar. Em seguida, encaminha para a Caixa a manifestação de interesse e, após a contratação, orienta o empresário, inclusive em casos de inadimplência.

A parceria do Sebrae com a Caixa oferece benefícios como redução de até 3,55% da taxa de juros para contratação durante o mês da Mulher, com carência de até 12 meses. Microempreendedoras Individuais podem ter acesso ao valor máximo de até R$ 12,5 mil, Microempresas, até R$ 75 mil, e Empresas de Pequeno Porte têm direito a até R$ 125 mil. As taxas de juros, que variam entre 2,24% e 1,69%, podem cair até 3,55%, a depender de cada caso.

O Caixa Pra Elas também está oferecendo condições especiais para o aluguel de maquininhas de cartão. As mulheres empreendedoras podem contratar os meios de pagamento com isenção total de mensalidade, por tempo indeterminado. As condições valem para MEIs que faturem mais de R$ 100 mensal e ME e EPP com faturamento de mais de R$ 10 mil por mês. Saiba mais aqui.

Banco da Mulher Paranaense
O programa Banco da Mulher Paranaense é conduzido pelo Fomento Paraná, instituição financeira ligada ao governo do estado. É voltado para empreendedoras informais, MEIs formalizadas, e microempresas com faturamento anual de até R$ 360 mil que tenham mulheres proprietárias de, no mínimo, 10% do capital societário. Os empreendimentos precisam estar localizados no Paraná.

O limite de crédito é de até R$ 10 mil para pessoa física e até R$ 20 mil para pessoa jurídica com taxa de juros de 0,76% a 1,69% ao mês. A carência para iniciar o pagamento é de 3 meses, com prazo de quitação de até 36 meses, incluído o período de carência.

É possível financiar investimentos como obras de construção, reformas, aquisição de maquinário, equipamentos, mobiliário, layout e capital de giro, para formação de estoques e manutenção do empreendimento.

Empreenda Mulher
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, em parceria com o Banco do Povo, promove por meio da iniciativa Empreenda Mulher o acesso à linha de microcrédito a empreendedoras formais (MEI), informais (Pessoa Física) e donas de micro ou pequenas empresas em todo o Estado de São Paulo.

A linha de crédito é de até R$ 15 mil para PF e até R$ 21 mil para PJ (incluindo MEI). Os juros são de 0,8% ao mês + 1% de TSF (Tarifa de Sustentabilidade do Fundo) no ato para PF; e 0,35% a 0,55% ao mês + 1% de TSF no ato para PJ. A carência para começar a pagar para PF e PJ é de até 3 meses e 4 meses, respectivamente.

O prazo de pagamento é de até 18 meses para Pessoa Física e 36 meses para Pessoa Jurídica. Para poder solicitar o crédito, a empreendedora deve fazer um ou dois cursos do programa Empreenda Mulher, oferecidos em parceria com o Sebrae.

Crediamigo Delas
O Crediamigo Delas é uma iniciativa do Banco do Nordeste para impulsionar o empreendedorismo feminino em todos os estados do Nordeste, além de empreendedoras informais ou microempreendedoras individuais (MEI) que residam no norte de Minas ou norte do Espírito Santo.

O limite de crédito é de até R$ 12.000,00 com juros de 2,20% ao mês. A carência para começar a pagar é de até 60 dias e o prazo para quitar o empréstimo é de 24 meses. As empreendedoras adimplentes recebem bônus de 15% sobre os juros da parcela, pagando um valor menor do que o definido em contrato.

Fundo Dona de Mim
Com o objetivo de impulsionar as microempreendedoras individuais que foram impactadas pela crise social e econômica causada pela pandemia da covid-19, o Fundo Dona de Mim foi criado pelo Grupo Mulheres do Brasil, presidido pela empresária Luiza Helena Trajano e que conta com mais 100 mil participantes no Brasil e no exterior, entre elas, pelo menos 40 importantes empreendedoras brasileiras de diferentes segmentos. O fundo de crédito contemplou, até novembro de 2021, empreendedoras de 300 cidades, em 25 estados do país.

As microempreendedoras aprovadas têm 9 meses de carência para começar a pagar. O pagamento é feito em 15 parcelas, sem juros e tarifas. Os valores devolvidos são usados em novos empréstimos para que outras mulheres possam investir em seus pequenos negócios.

Accredito Mulher Empreendedora
Lançado pela Accredito, plataforma de gestão de benefícios, o Programa Accredito Mulher Empreendedora busca incentivar mulheres proprietárias de pequenas empresas com linhas de microcrédito. O objetivo é auxiliar as empreendedoras na aquisição de mobiliários, equipamentos, ferramentas, insumos e capital de giro. O empréstimo é de até R$ 8 mil com taxas a partir de 1,37% + SELIC. A carência para começar a pagar é de 9 meses e as parcelas são de até 36 meses.

Com informações do Yahoo Finanças e Piauí Negócios.