Grandes e pequenos varejistas, atrás de inovação, recorrem cada vez mais às start-ups
Carolina Laert
Faz um tempinho que elas deixaram de existir, mas você ainda se lembra das locadoras de vídeo? E quem nunca teve que pagar uma multa por atrasar na entrega? Pois é, você não está sozinho nesse time. Esse fato aconteceu também com um dos fundadores da Netflix, Reed Hastings, que, após ter que pagar 40 dólares ao atrasar na entrega de um filme, percebeu que esse modelo de negócio estava ultrapassado.
Isso aconteceu em 1997, pouco depois de ter iniciado, nos Estados Unidos, a época conhecida como “bolha de internet”. Incomodado com o modelo de negócio das locadoras, um ano depois, Hastings lançou um site em que o cliente fazia a solicitação do DVD por e-mail e eles enviavam para sua casa pelos correios. Se a história é real ou um pouco lúdica, ninguém sabe de fato. No entanto, o que sabemos é que a vontade de inovar fez da Netflix a gigante que ela é hoje: 90 milhões de usuários em todo o mundo e avaliada em mais de US$ 40 bilhões.
Foi nessa época que as primeiras grandes start-ups, como a Netflix, surgiram. Filipe Pessoa, executivo-chefe da área de empreendedorismo do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR), um dos maiores centros de inovação do Brasil, explica que as empresas tecnológicas geralmente começam assim: pessoas que criam um modelo de negócios inovador, mesmo em condições incertas.
“A start-up é a fase inicial, a ideia inovadora, e é essa característica que a torna especial. As empresas sabem que precisam inovar, mas muitas não conseguem enxergar ou desenvolver novas oportunidades por estarem presas às funções do dia a dia. É nesse momento que as start-ups têm um papel essencial: pensar e levar soluções inovadoras para um determinado modelo de negócio”, revela.
Algumas companhias mais maduras, como a Natura, foram as primeiras brasileiras a testar programas de incentivo às start-ups como uma nova forma de inovação. Hoje, já são inúmeros programas. O especialista acredita que esse movimento deu-se pelo fato de as empresas perceberem que inovar é essencial para se manterem no mercado.
Investimento de peso
Mas nem sempre uma ajuda só basta. Algumas grandes empresas, que não querem perder mercado, estão trazendo as start-ups para dentro de casa. De acordo com o livro A startup enxuta, de Eric Reis, os empreendedores utilizam inovação contínua para criar empresas extremamente bem-sucedidas. A chamada “ilha da liberdade”, a que o autor refere-se, dá acesso à criação de start-ups dentro das próprias organizações, mas com alguns requisitos estruturais, como, por exemplo, recursos financeiros seguros.
Para o especialista do CESAR, esse movimento normalmente acontece pelos seguintes motivos: melhorar produto ou serviço já existente, oferecer um produto ou serviço novo e até mesmo solucionar um problema. Contudo, é importante atentar que, quando as start-ups começam a gerar receita, elas passam a fazer parte da operação normal da empresa.
Varejo mais conectado
Pessoa também acrescenta que nem sempre investir em start-ups ou trazê-las para dentro é viável, principalmente quando falamos de micro e pequenos empresários. Para ele, um bom caminho para os varejistas que têm uma margem de lucro apertada é se unir a outros que tenham margens parecidas. “Uma boa forma de os microempreendedores associarem-se às start-ups é percebendo quais são os desafios e as soluções de que estão precisando, porém em conjunto com outros micro [empresários]. Eles podem gerar uma série de desafios e levar até uma determinada start-up. O importante é não deixar seu negócio morrer por falta de investimento em inovação”, conclui.
Expansão à vista
De acordo com o último levantamento feito pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups), existem 4.217 start-ups ativas no país. Foi nesse ritmo que os empreendedores brasilienses Marcel Carneiro (24), Gabriel Freire (25) e Gabriel Machado (27) criaram, há três anos, a Vantago. “Começamos com um cartão de vantagens físico para que os consumidores garantissem descontos em alguns estabelecimentos parceiros aqui da capital. Em maio de 2016, realizamos uma pesquisa e percebemos que esse modelo estava antiquado. A solução encontrada foi migrar para a plataforma digital e, assim, criamos nosso aplicativo”, conta Freire.
A receita deu certo: hoje, já são mais de 75 pontos comerciais, como restaurantes, cursos de inglês e livrarias. “Nossa ideia, agora, é expandir e apresentar a Vantago para varejistas de outros estados. São Paulo, por exemplo, é um terreno bastante competitivo, mas nosso negócio é oferecer experiência ao cliente”, finaliza.