27 abr, 2025
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Faturamento do e-commerce deve crescer 12% em 2022

Em entrevista para a Varejo S.A., vice-presidente da ABComm fala dos desafios do varejo online com a lenta retomada econômica, a alta dos combustíveis e os conflitos internacionais.

Em entrevista para a Varejo S.A., vice-presidente da ABComm fala dos desafios do varejo online com a lenta retomada econômica, a alta dos combustíveis e os conflitos internacionais

Rodrigo Bandeira: “Claro que a reabertura gradual do comércio tradicional fará com que as pessoas voltem a consumir no comércio físico, mas em um cenário no qual o comércio eletrônico incorporou muitas lojas e consumidores”

Não é novidade que o e-commerce se fortaleceu nos últimos dois anos. Só no ano passado, o setor de comércio eletrônico arrecadou mais de R$ 150 bilhões. Mas, e este ano, será que o varejo online não será afetado pelo desejo dos brasileiros de ganharem as ruas e até mesmo pelo aumento dos custos do negócio e uma economia ainda em recuperação?

Para os especialista, a expectativa é que o faturamento do segmento continue a crescer. “É esperado um aumento de 12%, ou seja, esperamos arrecadar R$ 170 bilhões em 2022”, aponta Rodrigo Bandeira, vice-presidente da ABComm – Associação Brasileira de Comércio Eletrônico, chamando atenção ainda para as incertezas, visto que se trata de um ano eleitoral e há também os impactos do que tem acontecido no leste europeu.

Apesar de o crescimento do varejo online ter ocorrido em plena pandemia da Covid-19, o VP da ABComm acredita que a crise sanitária apenas deu um empurrãozinho para um fenômeno que já era esperado. “A pandemia trouxe mais consumidores e mais lojas para o e-commerce, foi um aumento exponencial no setor como um todo. “(Mas) o que houve foi uma aceleração de um processo que era inevitável”, garante Bandeira.

Ainda que os consumidores estejam ansiosos para voltar às ruas, sobretudo porque isso fortalece o sentimento de liberdade, as vendas online não serão drasticamente afetadas pelo movimento, avalia o especialista. “Claro que a reabertura gradual do comércio tradicional fará com que as pessoas voltem a consumir no comércio físico, até mesmo porque as pessoas vão ter de novo o sentimento de libertação, de poder andar nas ruas, de poder frequentar o comércio. Isso vai, novamente, dividir essa fatia de compras, mas em um cenário no qual o comércio eletrônico incorporou muitas lojas e consumidores”.

Para entender melhor as perspectivas do e-commerce em 2022, a Varejo S.A. conversou com Rodrigo Bandeira. Confira a entrevista:

Você vê o processo de instauração do e-commerce como algo inevitável ou a pandemia que gerou isso?
O processo era inevitável, a pandemia apenas acelerou o que a gente teria ao longo dos anos para frente. A questão da digitalização empresas é algo que vai acontecer de uma forma ou de outra. O que houve na pandemia é que você teve a interrupção do comércio e, com isso, a impossibilidade de as pessoas consumirem no comércio regular. A partir disso, houve um aumento exponencial no setor como um todo, seja na questão de mão de obra, seja na questão de novos consumidores, seja na questão de vendas e de abertura de nova lojas virtuais.

Além da pandemia, que outros fatores justificam esse aumento em 2021?
A pandemia trouxe à tona mais consumidores e mais lojas como opções para se consumir. Além da pandemia, as pessoas viram que é confiável e econômico comprar no comércio eletrônico, o que gerou uma aderência de pessoas que até então não compravam no mercado e sentiram ali, através da sua primeira boa experiência de compra, uma segurança de compra, uma praticidade, uma economia, em muitos casos, e aderiram de forma plena ao e-commerce.

Claro que a reabertura gradual do comércio tradicional fará com que as pessoas voltem a consumir no comércio físico, até mesmo porque as pessoas vão ter de novo o sentimento de libertação, de poder andar nas ruas, de poder frequentar o comércio. Isso vai, novamente, dividir essa fatia de compras, mas em um cenário no qual o comércio eletrônico incorporou muitas lojas e consumidores.

Você acha que o maior desafio na volta dos consumidores às ruas é conciliar o comércio físico e online?
Para o empresário, sim. É um desafio que, digamos assim, já começou lá atrás, já é realidade para alguns agora e certamente será realidade para muitos mais à frente.

É preciso que você integre todas as partes da sua empresa, ou seja, que os sistemas da loja física e da virtual possam conversar, além de converter. E você tem que ter uma boa e plena gestão de estoque, pois há vendas oriundas do físico e virtual e processo de troca dessas vendas. Por outro lado, tem a questão tributária e fiscal. Tudo isso conversando ali na mesma mesa.

O varejo físico precisa integrar, perfeitamente, essa operação do varejo online, e ambos vão seguir conforme a escolha do consumidor naquele momento.

Como o varejo de pequeno porte pode competir com as multinacionais do setor, como a Amazon, que acabam tendo melhores preços e condições de venda?
Essa competição ficou muito amigável porque existe uma condição interessante: a expansão dos canais de marketplace, que surge como possibilidade para os pequenos. Quando o próprio marketplace – ou seja, o detentor do espaço, que poderia ser a Amazon ou outra gigante –, não detém aquele produto em estoque, abre a possibilidade para que os lojistas (parceiros) com o item disponível fechem a venda. Então, digamos assim, o grande conglomerado empresarial não é um detentor dessa mercadoria, logo não há uma competição.

Outra possibilidade que pode vir a ser interessante para o pequeno empresário é atuar em nichos específicos, porque os grandes varejistas têm os nichos de consumo mais comum e cotidiano. Já os pequenos podem vir a atuar de uma forma diferenciada. É um bom negócio se eles atuarem de uma forma mais nichada, mais vertical, tendo categorias que não são comuns nos grandes, inclusive trabalhando (com os produtos nichados) nesses ambientes de marketplaces.

Qual a expectativa da ABComm para 2022?
A expectativa financeira que a gente tem é de quase R$ 170 bilhões em pedidos pela internet. É esperado um crescimento de 12%. Vale lembrar que o ano ainda não teve as suas datas de alavanque, as suas datas fortes: o Dia das Mães; o Dia dos Namorados; Dia dos Pais; e o último trimestre muito forte com o Dia das Crianças, Black Friday e Natal.

Mas também é um ano recheado de incertezas por ser um ano eleitoral e por conta do que a gente está vivendo mundialmente, e que impactará a economia no Brasil. E há fatores que influenciam qualquer segmento, que é a questão dos combustíveis e da energia elétrica. Esses são aspectos que podem frear esse crescimento e impactar o bolso dos consumidores.

Em contrapartida, existe a questão da reabertura gradual do comércio tradicional, da retomada de postos de trabalho e de uma possível retomada econômica. As questões do FGTS e do décimo terceiro podem vir a ajudar, mas é precoce a gente avaliar um cenário que se converteria totalmente em consumo, diante da situação/realidade das famílias brasileiras, muitas ainda com dívidas e buscando a recolocação profissional de trabalho.

São muitas expectativas, mas para setor de comércio eletrônico, independente de governo, independente da situação, o crescimento deve ser de dois dígitos, positivo ano após ano, dado que o mercado digital brasileiro ainda não atingiu uma maturidade, e ainda está distante disso. Então, a expectativa é de crescimento ainda, porém, o resultado pode ser fortemente influenciado por esses fatores, para baixo ou para cima.

E quanto às inovações tecnológicas para o setor?
O metaverso está chegando no país. É uma tendência, é uma boa tendência, mas claro que depende muito diretamente da questão do ato digital de navegação de cada um de nós. A pandemia fez com que os minutos online conectados fossem multiplicados por cem, por mil. As pessoas passaram a ficar muito mais tempo conectadas, e isso fez essa, digamos, pré-imersão das pessoas nesse mundo digital. Porém, ainda é algo um pouco exclusivo para as grandes corporações, grandes grupos comerciais. Para que isso se alastre de uma maneira a tomar a cena, precisaria de uma popularização das tecnologias que envolvem e que incluem o metaverso.

Você acha que o reflexo da guerra vai ser imediato no Brasil?
Essa resposta depende dos desdobramentos do conflito internacional. Isso também tem um outro viés para algumas categorias de produto: com a reabertura das fronteiras e a vacinação avançando, as pessoas com condição de viajar, comprar seus pacotes de viagem e programar férias pretendiam certamente voltar ao seu cotidiano de viagens, principalmente para Europa. O temor da guerra pode vir a retardar isso ou a frear esse impulso

É claro que uma guerra com essa proporção pode influenciar, sim, a questão do barril de petróleo e também no câmbio. Esses são fatores que afetam empresários e afetam vários índices econômicos que pertencem a qualquer país, influenciando, assim, o consumo como consequência.

*Estagiário sob supervisão de Fernanda Peregrino, editora da Varejo S.A.