O mercado bilionário das cartas de Pokémon
Jogos de colecionáveis como o dos monstrinhos e Magic The Gathering movimentam bilhões de dólares.
Há mais de duas décadas, o segmento de cartas colecionáveis representa uma das principais fontes de faturamento da marca multimídia japonesa Pokémon. Conhecido pela sigla TCG, de trading card game, o jogo movimenta um mercado global de bilhões de dólares.
Simples apenas na aparência, o TCG de Pokémon é baseado em uma disputa com regras complexas, na qual dois jogadores utilizam baralhos de cartas decorados com as imagens das populares criaturas originadas dos videogames.
Empresa responsável pelo gerenciamento da franquia, a Pokémon Company não revela cifras, mas divulga que fabricou 9,7 bilhões de cards no ano fiscal de 2022-23, totalizando mais de 53 bilhões de unidades comercializadas desde 1996 — mesmo ano dos lançamentos dos primeiros títulos para o console portátil Game Boy (além de jogos eletrônicos e do TCG, a marca Pokémon também engloba animações, quadrinhos e brinquedos). Os cards são vendidos em pacotinhos, os “boosters”, ou na forma de baralhos completos, os “decks”. No Brasil, o produto é representado pela Copag desde 2011, sob o nome de Estampas Ilustradas.
Apesar de não ser considerado oficialmente um “esporte da mente”, o Pokémon Trading Card Game é fomentado por um intenso circuito competitivo organizado pela própria fabricante, que culmina em um torneio mundial que reúne jogadores de todas as faixas etárias em disputas por valores em dinheiro.
A mais recente edição do Pokémon World Championships, ocorrida em agosto, em Yokohama, no Japão, o Brasil alcançou as finais de duas das três categorias de TCG. Gabriel Torres, 11 anos, enfrentou e perdeu para o taiwanês Shao Tong Yen na liga júnior (nascidos a partir de 2011). Já Gabriel Fernandez, 13 anos, venceu o holandês Sydney de Bruijn, tornando-se o primeiro campeão brasileiro sênior (nascidos entre 2007 e 2010). Pelo vice-campeonato, Torres ganhou US$ 15 mil (R$ 73 mil).
Competições à parte, um dos aspectos que mais repercutem sobre o TCG é seu intenso mercado paralelo, motivado pela raridade de certos itens. A venda de cards raros não é estimulada oficialmente pela Pokémon Company, mas também não é coibida. Em 2022, o influenciador Logan Paul adquiriu uma carta promocional estampada com o mascote Pikachu por US$ 5,2 milhões (R$ 25,3 milhões), no que é considerada a maior negociação desse tipo de produto em todos os tempos.
Além do apelo do colecionismo, parece haver um motivo maior para o interesse dos fãs de Pokémon pelo TCG: as batalhas simulam a premissa da franquia, que gira em torno da captura de monstros selvagens e batalhas entre as criaturas em uma arena. A intenção é “transmitir o sentimento de batalha dos videogames replicado nas cartas”, explica Atushi Nagashima, principal executivo da Creatures, ramificação da Pokémon Company responsável pelo desenvolvimento do card game. “A mesa simula o estádio e você está lá com seus monstros, batalhando com os adversários. Temos o cuidado de garantir que a pessoa possa se imaginar nessa situação quando está jogando.”
Na opinião de Nagashima, a popularidade do TCG entre consumidores de diferentes idades também está ligada à essência da narrativa de Pokémon: “Esse conceito de encontrar um monstro, capturá-lo, torná-lo seu e batalhar com ele deveria ressoar pelas gerações, independentemente de você ser criança ou adulto”.
De acordo com o instituto Zion Market Research, o mercado mundial de card games movimentou US$ 6,4 bilhões (R$ 31 bilhões) em 2022 e pode ultrapassar a marca de US$ 11 bilhões até 2030. Atualmente, o principal adversário de Pokémon no segmento é o líder Magic: The Gathering, inspirado em temas medievais e publicado pela norte-americana Wizards of the Coast, que celebrou faturamento de US$ 1 bilhão em 2022. A empresa também não abre números nem comenta o mercado paralelo de cards, que “é uma dinâmica fora do nosso alcance”, de acordo com sua assessoria de imprensa.
“Publicamos as cartas em oito idiomas, incluindo espanhol e português. O Brasil é o maior mercado para nós na América Latina e representa uma parte multimilionária de nossos negócios”, declara Mark Purvis, diretor comercial sênior de Magic: The Gathering. Para o executivo, o público de Magic se diferencia do de Pokémon TCG “por ser um pouco mais velho, para combinar com os temas complexos do jogo”.
“Nosso crescimento é saudável desde meados dos anos 2000 e vemos muito potencial de crescimento pela frente”, continua Purvis, citando o recente lançamento da linha Universes Beyond com a temática da saga O Senhor dos Anéis. Foi essa série que originou “O Anel”, carta de impressão única encontrada por um fã em um booster e vendida para o rapper Post Malone por US$ 2,6 milhões (R$ 12,6 milhões). Recém-anunciada, uma parceria de Magic com o conglomerado Marvel prevê jogos de cartas estrelados pelos icônicos super-heróis, com lançamento previsto para 2025.
Enquanto isso, a Pokémon Company — que já anunciou que a edição 2024 de seu mundial acontecerá em agosto, no Havaí — segue surfando a boa onda do TCG, com pretensões cada vez mais otimistas. “Ainda há uma enorme quantidade de pessoas que não fomos capazes de atingir com Pokémon. O objetivo é continuar a expandir nossa base de fãs”, afirma Takato Utsunomiya, COO da Pokémon Company. “Quando chegar minha hora de partir, desejo que Pokémon continue a ser esse exemplo de marca que continua nos holofotes e que possa permanecer por 400, 500 anos. Esse é o tipo de visão a longo prazo que quero ter.”
Confira a matéria completa de Pablo Miyazawa para o Valor.