Empresas mais impactadas pela crise são as principais responsáveis por gerar empregos, mas precisarão de suporte
Por João Ortega
Pequenas e médias empresas são centrais em qualquer economia. Este segmento emprega grande parcela dos trabalhadores, atua como fornecedor e comprador para as grandes organizações e proporciona serviços e produtos essenciais à sociedade. Em épocas de crise, PMEs são as que mais sofrem. Por consequência, na retomada econômica, estas empresas devem liderar o crescimento econômico.
Um estudo global com mais de 35 mil pequenos negócios em 27 países identificou que, até fevereiro deste ano, 24% das empresas haviam encerrado operações. Apenas metade dos empreendedores entrevistados acredita que, caso o cenário econômico não melhorar, o seu negócio continuará aberto.
O impacto é maior em setores que envolvem, necessariamente, contato direto com o consumidor. Empresas em áreas como turismo e hotelaria foram as que mais fecharam durante a pandemia. Entre as que resistiram, 43% demitiram mais da metade dos funcionários. Somente uma em cada quatro empresas pretende, na retomada econômica, recontratar empregados que foram demitidos.
De acordo com análise da McKinsey, três razões explicam a vulnerabilidade das PMEs à crise gerada pela pandemia. A primeira, e mais óbvia, é a falta de dinheiro em caixa. Embora praticamente todas as organizações tenham sofrido com queda nas receitas, grandes corporações tinham capacidade financeira para suportar o baque. Os pequenos negócios, por outro lado, tinham capital para sobreviver, em média, apenas 27 dias sem faturamento.
O segundo fator é a inflexibilidade das cadeias de suprimentos. Comparadas a empresas de grande porte, PMEs têm maior dependência de fornecedores específicos, sem redundâncias, em cadeias longas e complexas. Com fechamento de fronteiras e medidas de segurança, essas cadeias foram desmontadas.
Por último, a consultoria destaca como fator de vulnerabilidade das PMEs a representação desproporcional nos setores mais impactados. Isto é: em áreas da economia como hotelaria, turismo, alimentação e varejo, a proporção de PMEs (entre 60% e 70% de todos os negócios nestes setores) é maior do que em mercados menos afetados pela crise. Ou seja, na média, este grupo tende a sofrer mais com a crise.
Suporte a PMEs na retomada econômica
Ainda segundo a consultoria McKinsey, PMEs são responsáveis por entre 45% e 70% dos empregos, dependendo do país. Essas parcelas podem ser ainda maiores se negócios informais fossem levados em consideração. Se essas empresas não receberem suporte para a retomada econômica, haverá menor poder aquisitivo da população em geral e, como efeito cascata, um impacto negativo nas receitas das grandes corporações também.
Segundo levantamento da agência britânica Raconteur, a grande lacuna das pequenas e médias empresas está na adaptação aos meios digitais. Entre os negócios entrevistados: 34% não sabem quais ferramentas digitais seriam úteis para suas necessidades; 41% não investiram em nenhuma solução digital; e 25% nem ativaram soluções tecnológicas após comprarem.
Neste sentido, a necessidade mais latente não é de novas soluções tecnológicas para pequenas empresas, e sim de qualificação e capacitação para fazer bom uso destas ferramentas. É o que destaca um estudo da OECD: “Há uma lacuna de habilidades que impede gerentes e trabalhadores de identificar as soluções digitais que precisam, e para adaptar os modelos de negócios e processos para o ambiente digital”. Isto é acentuado na América Latina, onde há uma diferença maior entre líderes e colaboradores de grandes corporações em comparação aos profissionais das PMEs.
O estudo ainda indica uma outra necessidade do pequeno empreendedor: acesso a capital. Com as receitas em baixa, ofertas alternativas de crédito são essenciais para garantir a sobrevivência dos pequenos negócios e possibilitar que eles cresçam na retomada econômica. Neste infográfico exclusivo, separamos alguns dados sobre o setor e opções de crédito que se destacaram durante a pandemia.
Como será a retomada das PMEs no Brasil
O momento atual traz uma mistura de otimismo e paciência para o empreendedor brasileiro. Segundo levantamento do Serasa, nove em cada dez empresas enxergam novas oportunidades geradas pela crise, ainda que 64% tenham sofrido impactos negativos da pandemia. Mais de 80% das PMEs pretendem continuar apostando no ambiente digital mesmo após o fim da pandemia e 55% querem expandir os negócios no futuro breve.
WhatsApp, Instagram e Facebook são, de longe, os maiores canais de vendas usados pelos pequenos negócios durante a crise. Para a retomada econômica, as empresas vão focar os investimentos, principalmente, em ferramentas para trabalho e atendimento remoto; tecnologias para vendas; e plataformas de gestão financeira.
Uma análise do Sebrae, no entanto, mostra que a recuperação depende totalmente do ritmo de vacinação e será diferente para cada setor da economia. A expectativa é de que, em setembro, 9,5 milhões de negócios retomem ao patamar de atividade de antes da pandemia. Estas empresas atuam em mercados como logística, negócios pet, oficinas, construção, indústria de base tecnológica, educação, saúde e bem-estar e serviços empresariais.
Segmentos como o de bares e restaurantes, artesanato e moda, só devem retomar esse nível de atividade por volta do dia 5 de outubro. Para o setor de beleza, a expectativa é de retomada no dia 15 de outubro. As empresas de turismo e economia criativa devem se recuperar apenas em 2022.
Fonte: Whow