29 abr, 2025
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Afroempreendedorismo

Abrir o negócio próprio e valorizar sua cultura e ancestralidade é o recurso de grupos que investem na economia criativa para incentivar renda entre a […]

Abrir o negócio próprio e valorizar sua cultura e ancestralidade é o recurso de grupos que investem na economia criativa para incentivar renda entre a população negra.

Estimular a inovação e a geração de negócios de modo a ampliar as oportunidades de trabalho e renda para os negros no Brasil. Essa é a definição de Afroempreendedorismo, iniciativa que ganha importância no país promovendo a divulgação e a comercialização de produtos que valorizam a negritude e as raízes da cultura negra no Brasil. Unidos, os afroempreendedores buscam informação e conhecimento para tirar suas ideias do papel e fortalecer, a parti r da conquista do seu espaço, as políticas de combate à discriminação racial no país. Números indicam que o afroempreendedorismo já é uma realidade. Um levantamento de 2015 do Sebrae baseado na Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad) apontou que, em dez anos, a quantidade de empreendedores negros cresceu 29% no Brasil.

No segmento das micro e pequenas empresas – aquelas que faturam até R$ 3,6 milhões por ano –, o percentual de empresários negros passou de 43% para 49%. O estudo indicou ainda que o Comércio e a Agricultura são os setores que mais têm proprietários de empresas que se declaram negros (23%). Os demais empreendedores negros estão nos setores de Serviços (21%), Construção (19%) e Indústria (10%). Para fomentar o Afroempreendedorismo, organizações da sociedade civil se uniram ao Coletivo de Empresários e Empreendedores Afro-brasileiros (Ceabra), ao Instituto Adolpho Bauer (IAB) e ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

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Dessa cooperação, nasceu o Projeto Brasil Afroempreendedor (PBAE) que, entre 2013 e 2016, contribuiu para o desenvolvimento de mais de 1600 negócios liderados por negros, assegurando oportunidades para a ascensão social e o fortalecimento de líderes negros no comércio. O Projeto deixou outro legado: a organização da Rede Brasil Afroempreendedor (Reafro), associação sem fins lucrativos responsável atualmente por dar suporte a iniciativas semelhantes no país. A Rede promove encontros, feiras e capacitações para troca de experiências e aprimoramento das práti cas de gestão das empresas lideradas por negros e negras que, por meio do comércio, valorizam culturas e saberes que chegaram ao Brasil séculos atrás. Segundo a presidente da Reafro, Ruth Pinheiro, a iniciati va nasceu na década de 1980. O conceito designou o momento em que os empreendedores negros começaram a se unir com o objetivo de superar desafios comuns, em especial o da discriminação.

“O empreendedor negro é vítima de racismo com frequência. Ele não é bem recebido nos bancos, não é bem aceito pelos clientes, sofre com a falta de confiança de sócios que subestimam sua capacidade. Essas dificuldades explicam a necessidade de se criar núcleos de orientação voltados exclusivamente para o empreendedor negro”, destaca. João Carlos Martins preside o Ceabra do estado de São Paulo. Junto da Reafro, a entidade atua na capacitação de artesãos, criadores e designers para gestão do próprio negócio. Para ele, o racismo está disfarçado na descrença do empregador, dos financiadores e até de autoridades governamentais. Aos poucos, porém, os grupos vencem o ceticismo, conquistam espaço e garantem os recursos necessários para alavancar os negócios: “Ainda é necessário ao negro, no Brasil, provar sua capacidade a todo mundo, o tempo todo. Mas somos determinados, não desistimos ao esbarrar em qualquer obstáculo”.

A discriminação racial no mundo dos negócios foi abordada em pesquisa realizada entre os participantes do PBAE. O estudo apontou que quase metade dos respondentes (44,5%) já sofreram com manifestações de racismo por parte de clientes. De acordo com as lideranças das entidades de apoio ao afroempreendorismo, a competitividade dos empreendedores afro-brasileiros é afetada por dois elementos, principalmente: além das manifestações cotidianas de discriminação, há também o histórico de exclusão dos negros em relação a oportunidades de trabalho e estudo.

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Em consequência dessa realidade, a metade negra dos pequenos e microempresários brasileiros não compete em condições de igualdade com a metade branca. A dificuldade de acesso a crédito bancário, segundo Ruth Pinheiro, é outra justificativa para a criação das organizações impulsionadoras do afroempreendorismo. Ela ressalta que, para alavancar os negócios, é essencial a qualquer empresário acompanhar as atualizações tecnológicas, buscar capacitações, adquirir matéria-prima de qualidade e manter capital de giro – e tudo isso exige investimento. “Historicamente, a população negra tem menor renda.

Poucos tiveram tempo e oportunidade de construir patrimônio e por isso ainda são poucos os empreendedores negros que conseguem dar garanti as aos bancos”, explica. Por conta disso, um dos objetivos da Reafro é desenvolver projetos e estabelecer parcerias que possibilitem empréstimos e operações financeiras de crédito para o atendimento direto e indireto aos empresários negros.

EMPREENDEDORISMO E VALORIZAÇÃO CULTURAL

[blockquote author=”” link=”” target=”_blank”]O estudo Pesquisa Mulheres e Trabalho, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social, revelou que, em 2014, as mulheres negras ainda recebiam 40% a menos que os homens brancos.[/blockquote]