18 jan, 2025
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Empregos flexíveis: como a China impulsiona a economia com a modalidade de trabalho

Em uma das maiores economias do mundo têm 200 milhões de pessoas trabalhando em atividades flexíveis, como entregas, pet-sitting, marketing digital e até companhia de corrida.

Na China, ser companheiro de corrida é uma das oportunidades de trabalho criadas pela economia digital

Em uma das maiores economias do mundo, 200 milhões de pessoas trabalham em atividades flexíveis, como entregas, pet-sitting, marketing digital e até companhia de corrida

Impulsionados pelo desenvolvimento da economia digital, cresce rapidamente na China o que os estudiosos de lá classificam de ‘novos empregos flexíveis’. De acordo com um relatório divulgado em setembro deste ano pela Jinan University e a plataforma de recrutamento online Zhaopin, o número de chineses atuando nessas atividades representou 19,1% do total de pessoas economicamente ativas no primeiro trimestre de 2023, no país. No mesmo período de 2020, apenas 13,8% trabalhavam nos tais trabalhos flexíveis.

Em dezembro de 2021, a população ativa chinesa em empregos flexíveis atingiu os 200 milhões de pessoas, segundo o DNE (Departamento Nacional de Estatísticas) da China. Em geral, atuam em setores como transporte, logística, armazenagem, cultura, mídia, entretenimento e esportes.

“Os novos postos de trabalho flexíveis são categorizados em oito campos, incluindo comércio eletrônico nas plataformas, entrega, serviços de bem-estar, serviços de aprendizagem, lives em plataformas e motoristas de compartilhamento de caronas”, disse Guo Sheng, presidente da Zhaopin.

O estudo da Jinan University e da Zhaopin revela ainda que, nos primeiros três meses deste ano, 23,2% de todos os candidatos a emprego desejavam ter um novo emprego flexível, sendo que mulheres, jovens e pessoas sem experiência profissional preferem essas posições. Há três anos, apenas 18,6% tinham o mesmo desejo de carreira. Além disso, na China, esse tipo de ocupação oferece melhores salários em comparação com o emprego tradicional, mas o nível de bem-estar é menor.

Início da jornada profissional
O DNE aponta que o país asiático possui mais de 1,6 milhão de pessoas trabalhando em empregos relacionados ao streaming, um aumento de quase 300% entre 2020 e 2021. Já o Centro de Informações e Carreiras para Estudantes do Ensino Superior da China revela que, no período, 16% de todos os recém-graduados no país escolheram empregos flexíveis.

É o caso de Liu Zhen, produtor de efeitos especiais que se formou há cerca de 6 anos. Logo após a formatura, o profissional chinês se tornou um influencer digital, divulgando conteúdo no Bilibili, uma plataforma de entretenimento e compartilhamento de vídeos online popular na China. O influencer conquistou muitos fãs e o número de visualizações em seu canal lhe rendeu a oportunidade de trabalhar para uma equipe de mídia profissional. Para ele, esse tipo de trabalho dá aos profissionais a oportunidade de “voar sozinho” e explorar novas direções na carreira, enquanto desenvolve seus pontos fortes, talentos e interesses pessoais.

“Escolher um emprego flexível não significa que eu não consiga encontrar um emprego, nem significa apenas fazer part times (meio expediente). É um novo modelo de carreira”, disse Liu Zhen.

A especialista em carreiras Jiang Jianrong, da Universidade de Nankai, explica que “enquanto a economia cresce, as pessoas estão mais interessadas em viver de um modo livre”. Ou seja, as novas profissões permitem que os jovens trabalhem pelos seus próprios sonhos, não apenas por dinheiro, de acordo com Jiang, enquanto Cui acredita que as novas profissões criarão mais empregos quando elas ligam interesses e trabalho.

Os serviços sob demanda, tais como chef pessoal e pet-sitting, também colaboraram para o fortalecimento desse tipo de trabalho. O jovem Zhenzai era diretor de operações de uma empresa de catering, antes da pandemia. No período da Covid-19, passou a cozinhar para seus amigos e a compartilhar sua experiência on-line, atraindo 7 mil seguidores dentro de dois meses. Desde então, trabalha em tempo integral no sul da China, em Guangdong, cozinhando sob demanda.

O chef chinês cobra 198 yuans (US$ 28) por quatro pratos caseiros comuns e um extra por pratos que envolvem preparações complexas. Já um banquete familiar não sai por menos de 688 yuans (US$ 97). “Durante o período mais movimentado, o chef pessoal pode ganhar mais de 10.000 yuans (US$ 1,4 mil) por mês”, afirma Zhenzai.

Cui Jian, que vive na cidade de Kunming, no sudoeste da China, é companheiro de corrida, também considerado um novo emprego flexível. “É suficiente para mim ganhar a vida como um companheiro de corrida. Posso ganhar entre 100 e 200 yuans (US$ 15 a US$ 30) correndo por apenas duas horas”, conta.

Vantajoso para as empresas?
Em uma das principais economias do mundo, os indivíduos são incentivados a usar novas plataformas online, como mídias sociais e sites de compartilhamento de áudio e vídeo, para trabalhar. O 14º Plano Quinquenal (2021-25) para o Desenvolvimento da Economia Digital, divulgado pelo Conselho de Estado em 2022, promove o emprego, o empreendedorismo e a inovação, por meio dos empregos flexíveis como atividade de tempo parcial.

Por outro lado, os postos de trabalho flexíveis também se tornaram uma forma nova e conveniente para as empresas contratarem funcionários, com mais liberdade na seleção e alocação de funcionários. O Relatório de Desenvolvimento da China sobre o Emprego Flexível (2022), realizado por pesquisadores da Universidade Renmin, 61,14% das empresas chinesas estavam recorrendo ao emprego flexível em 2021, um aumento de 5,46% em relação a 2020.

E no Brasil?
Por aqui, os empregos flexíveis também têm crescido e gerado um debate amplo sobre precarização do trabalho e, ao mesmo tempo, o desejo dos profissionais por mais flexibilidade na jornada e ser “seus próprios chefes”.

No Brasil, 92% dos profissionais querem horários mais flexíveis, de acordo com pesquisa da empresa de recrutamento e seleção Randstad. Realizado com 35 mil profissionais de 34 países, o levantamento mostra ainda que 33% dos entrevistados preferem estar sem emprego do que estar infelizes no trabalho e 64% não aceitariam trabalho sem equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do ano passado, revelam que um terço dos desligamentos foi por decisão do trabalhador, principalmente por causa do ambiente tóxico de trabalho, emprego sem nenhuma flexibilidade e que não se encaixa na vida pessoal. Isso representa cerca de 6,8 milhões de brasileiros.

Com informações da Agência Xinhua e Diário do Povo Online.