19 maio, 2024
0 ° C

Como a felicidade impacta o seu negócio?

Empresas com funcionários felizes têm queda de 51% da rotatividade dos colaboradores e aumento de 33% da rentabilidade, segundo a Gallup.

Empresas com funcionários felizes têm queda de 51% da rotatividade dos colaboradores e aumento de 33% da rentabilidade, segundo a Gallup

No mundo todo, é consenso que apoiar a saúde mental das pessoas é importante, especialmente no ambiente de trabalho, seja de colaboradores, seja de clientes. Inclusive, promover a felicidade dos seres humanos resulta em conexão com a marca e melhores vendas, bem como funcionários que amam fazer parte daquele negócio, trabalho mais eficiente e de qualidade e até queda nos dias de afastamento por doença. Então, por que as empresas ainda não adotam medidas para o bem-estar das pessoas?

A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que no mundo mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio anualmente, sendo a quarta maior causa de mortes de jovens de 15 a 29 anos de idade. No Brasil, a PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), realizada em 2019 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revela que a situação de saúde mental no país é alarmante – com uma população cada vez mais ansiosa e estressada e aumento no número de suicídios – e, para especialistas, deve ser analisada como epidêmica.

“O mundo atual considera que a falta de entusiasmo é culpa sua. Não é culpa do emprego, do país, da opressão, é sua! Se você não encontrou essa luz, esse sentido, você é o problema. Dentro desse discurso dominante de êxito, do mindset de reconhecimento, é você que deve produzir o seu próprio tripalium*”, afirma o professor Dr. Leandro Karnal, em uma aula sobre felicidade no Youtube.

De acordo com a PNS, 10,2% das pessoas com 18 anos ou mais receberam o diagnóstico de depressão. Já dados oriundos do SIM (Sistema de Informação de Óbitos), vinculado ao DATASUS (Departamento de Informática do SUS – Serviço Único de Saúde), apontam que, entre 2010 e 2019, o país registrou aumento de 43% no número de suicídios, crescimento que tem relação com o adoecimento no trabalho, avaliam estudiosos da área. Em 2019, foram notificados 13,5 mil suicídios em território nacional, sendo quase 12 mil casos de pessoas na faixa etária de 14 a 65 anos e, destes, 10 mil ocorreram em indivíduos em atividade de trabalho.

Para a Dra. Laurie Santos, professora de Psicologia na Yale University e apresentadora do podcast “The Happiness Lab”, a cultura do capitalismo está afetando negativamente a nossa felicidade. “O capitalismo foi construído para ir atrás de coisas, certo? Pegue a próxima coisa, compre a próxima coisa. Muitas vezes, é realmente baseado nessas recompensas extrínsecas, recompensas materiais. E tudo o que sabemos sugere que não é isso que está nos dando felicidade”, disse em conversa com a jornalista norte-americana Katie Couric, para o projeto ‘Future Ready’ do Think with Google.

“Hoje, estamos adoecendo na rua, no trabalho e até morando sozinhos – porque a solidão é uma epidemia também, e há ainda o pior tipo dela, que é a solidão a dois –. Se você tivesse uma família perfeita, provavelmente, a carga de estresse do trabalho seria menos pesada, porque teria um momento de recarregar a sua energia afetiva e de equilíbrio. Mas, o mundo está doente, a violência está destruindo as famílias e as agressões também estão no ambiente de trabalho. Logo, não há um lugar perfeitamente seguro”, avalia Karnal.

O Brasil é o país mais ansioso do mundo, segundo um estudo anterior à pandemia realizado em 24 países e publicado no periódico científico PLoS One. Além disso, ocupa o quinto lugar no ranking mundial da depressão (OMS) e o segundo em burnout, conforme uma pesquisa da Isma-BR (International Stress Management Association).

Como as empresas podem reagir à onda de depressão?
Como já dito na abertura desta matéria, quando o empreendimento prioriza a saúde e o bem-estar de funcionários e clientes, consegue não só um alto desempenho profissional, como também fidelização da clientela e maior lucratividade. Com relação à produtividade, um estudo da Gallup, mostra que empresas com funcionários felizes têm 50% menos acidentes laborais, queda de 51% da rotatividade dos colaboradores e aumento de 33% da rentabilidade. Outra pesquisa, da Harvard Business Review, aponta que colaboradores satisfeitos são 31% mais produtivos, 85% mais eficientes e 300% mais inovadores.

“Manter os funcionários felizes é mais importante do que os líderes pensam, em parte porque há muitas evidências de que seu desempenho depende de seus níveis de felicidade. Você quer que um médico apresente uma solução inovadora para um problema médico? Peça para ele assistir a um pequeno vídeo de gatos que o faça rir antes de começar. Só colocar um médico de bom humor faz com que ele apresente soluções mais inovadoras”, afirma categoricamente a educadora norte-americana.

Então, como as marcas, empresas e os líderes empresariais devem proceder para colaborar com a saúde mental e bem-estar de seu time, clientes e comunidade? O que as empresas podem fazer para manter as pessoas felizes? E esse é realmente o trabalho deles?

“Isso depende de cada empresa, mas acho que a chave é realmente pensar sobre quais são os benefícios que obtemos quando estamos juntos no escritório. E um desses benefícios é que as equipes podem interagir e se conectar, certo? Então, deve-se encontrar maneiras de fazer com que todos tenham essa conexão social”, comenta, detalhando que as ações presenciais têm mais chance de promover e fortalecer o vínculo dos integrantes da equipe.

Ter uma cultura bem estabelecida no negócio é essencial também para uma equipe menos ansiosa e mais segura e produtiva. Isso significa que todos devem estar cientes do que podem esperar da empresa e do que ela espera de todos. E os especialistas são taxativos: quando se tem um time alinhado com a cultura do negócio, características como pertencimento, engajamento e motivação são sentidas por todos, resultando em maior produtividade e felicidade.

A professora de Yale diz ainda que controlar o tempo dos funcionários não é uma boa estratégia de gestão. “A evidência sugere que isso realmente faz com que as pessoas tenham um desempenho inferior e que, se você permitir que as pessoas realmente adotem seus pontos fortes, abracem seus valores, e der a elas um pouco de espaço para serem bem-sucedidas nisso, isso pode realmente aumentar o desempenho mais do que muitos líderes esperam”, ensina.

Geração F.L.O.W.
André Souza, especialista em Gestão de Pessoas e CEO da Futuro S/A, explica que após a pandemia surgiu um conjunto de atitudes, comportamentos e anseios das pessoas que permeia o mundo do trabalho. O expert, que é Mestre em Administração de Empresas, nomeou esse fenômeno de Geração FLOW.

“Apesar dos profissionais das novas gerações serem os grandes influenciadores dessas mudanças, o fato é que todas as pessoas que estão no mercado de trabalho atualmente (e que vivem essa época), absorvem, em maior ou menor proporção, um pouco dessas práticas, ideias e modo de agir. É um comportamento que cruza diferentes gerações”, fala Souza.

Conhecer as características desse novo profissional pode ajudar a sua empresa a ter times mais felizes e, portanto, mais produtivos. F.L.O.W. é uma sigla que representa quatro palavras: freedom, learning, officeless e wellbeing. Saiba mais detalhes:

1. Freedom: “Está conectado à relação mais fluida que as pessoas têm hoje com o trabalho, onde as opções vão muito além do emprego tradicional. Uma relação em que a autonomia, as experiências, os desafios e os aprendizados em uma atividade profissional têm tanto ou mais valor do que os anos que as pessoas passam em uma empresa”, detalha o profissional de RH (recursos humanos).

2. Learning: as pessoas desejam que o trabalho seja uma fonte dinâmica de aprendizado e desenvolvimento, assim como são a internet, as redes sociais etc.

3. Officeless: “A experiência do trabalho 100% remoto durante a pandemia abriu possibilidades de diferentes formatos e modelos de trabalho que combinam o presencial e o virtual”, diz o Mestre em Administração.

4. Wellbeing: os profissionais têm anseios crescentes por ter uma vida equilibrada, feliz e com bem-estar no trabalho. Sem isso, há grandes chances de que não criem vinculo e conexão com a marca e a empresa.

E a felicidade da clientela?
A resposta também está nos valores, propósitos e compromisso verdadeiro com as pessoas e o mundo ao seu redor. Às vezes, direcionar 1% do valor do produto e serviço já é suficiente para colaborar com a felicidade e um mundo melhor.

“As pessoas realmente valorizam fazer coisas boas para outras pessoas, fazer coisas boas para o planeta, por exemplo. E acho que as empresas fazem isso de forma confusa. Como empresa, é preciso atuar, de verdade, e compartilhar o que está fazendo para ajudar o planeta e o mundo. Mostre como e o quanto de uma compra/venda individual está sendo destinado a isso, mesmo que seja uma pequena quantia”, orienta a professora de Psicologia. “Ao saber que estou comprando algo que está indo para algo bom, embora seja 1%, vou ter o impulso de felicidade que vem de fazer algo bom para os outros”, reafirma a Dra. Laurie Santos.

A especialista diz ainda que apostar em uma comunicação e iniciativas criativas, lúdicas e divertidas também podem ajudar as pessoas a terem uma vida mais leve e saudável.

*Termo latino que dá nome a um instrumento usado para torturar escravos pelos romanos. Para parte da comunidade linguística, “tripalium” deu origem, no português, às palavras “trabalho” e “trabalhar”, embora no sentido original o “trabalhador” seria um carrasco, e não a “vítima”.

Com informações do Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde, Think with Google, VocêRH e Wikipedia.