01 nov, 2025
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NRF 2026 trará o futuro para o presente. E para o Brasil pode ser diferente

Tema central será The next now is here, de forma provocativa, estimulando o toque no futuro nos debates

Divulgação: NRF - National Retail Federation
NRF 2026 trará o futuro para o presente. E para o Brasil pode ser diferente

O tema central será The next now is here, de forma provocativa, estimulando o toque no futuro nos debates, apresentações, visitas, conexões e encontros que marcam o maior evento de varejo nos Estados Unidos de 11 a 13 de janeiro.

Pela evolução das negociações sobre taxações, o evento poderá ter conotações diferentes para o Brasil no momento presente.

Esse é um evento que acompanhamos pessoalmente há 40 anos, com a única exceção de 2022, ano em que a pandemia impediu sua realização. Ela também viabilizou a realização do Global Retail Show em modo virtual integrando diversos países para discutir o cenário que se reconfigurava pela transformação gerada pela covid-19.

Estimamos entre 2.500 e 3.000 brasileiros estarão em Nova York este ano para sintonizar com a realidade da economia, do varejo e do consumo dos Estados Unidos, e eventuais impactos no Brasil.

Um evento em Nova York que reúna esse número de brasileiros, por si só, já é um acontecimento. E a Gouvêa teve o privilégio de iniciar a presença estruturada de grupos empresariais do Brasil no evento em 1990.

Mas, necessariamente, é preciso estar com a visão aberta olhando e comparando o cenário global, em especial porque é da Ásia que vêm as mais importantes mudanças geradas pela tecnologia, pelo digital e pela Inteligência Artificial – e muito do que acontece de mais importante no cenário global de varejo, consumo e serviços.

Tudo isso, sempre considerando a nossa própria realidade local impactada pelo momento econômico, político, financeiro e de consumo, em que nem tudo que reluz é ouro.

O momento econômico e político dá o tom da tensão

Apesar da característica do consumidor médio norte americano ser superfocado no seu micromercado e menos conectado com a realidade mais abrangente, esse momento tem imposto mudanças nesse comportamento.

O atual shutdown das atividades do governo federal norte-americano, com a paralisação parcial ou total das atividades, combinada com a inflação de algumas categorias de produtos está forçando uma internalização das discussões e das questões externas que envolvem também as relações com seus vizinhos México e Canadá, além de outros parceiros históricos, como o próprio Brasil, agora aparentemente em fase de distensão.

O protagonismo político interno e externo buscado pelo governo Trump está contaminando o comportamento do consumidor médio e gerando atitudes menos distantes das questões externas como historicamente acontecia.

Os desafios envolvidos nas disputas político e econômicas, especialmente com a China, atingiram outro patamar no momento recentemente e envolvem o protagonismo e o permanente embate entre a maior economia do mundo medida em valor do PIB em dólares, representada pelos Estados Unidos, e a maior economia no conceito PPP (Paridade de Poder de Compra), representado pela China.

E o envolvimento nos conflitos políticos em outras regiões do mundo, combinado com os temas das drogas e as ações militares desencadeadas, tem gerado um quadro muito menos alienado do que no passado.

E tem precipitado discussões de natureza política, social e de sustentabilidade, que têm seus impactos marcantes no consumo e nas opções por valor, marcas, canais, preços, condições de pagamentos, produtos, serviços e locais de compra.

No varejo e no consumo profundas mudanças por lá

É inegável que, como em qualquer outro mercado do mundo, o consumo e o varejo dos Estados Unidos estão sendo afetados pelo redesenho do emprego, pelo envelhecimento da população, pelas mudanças de hábitos e por tudo o que o digital, a tecnologia e a Inteligência Artificial precipitam.

O dado mais eloquente para demonstrar esse processo é a dramática mudança no consumo de alimentos.

Antes da pandemia, a participação dos alimentos preparados fora do lar, o foodservice, no total das despesas com alimentos era de 48% no mercado norte-americano. Atualmente, está em 59%, e com perspectiva de crescimento.

Isso demonstra, de forma direta, o quanto temos um processo estrutural de migração da compra de produtos para a compra de serviços combinados com produtos, gerando soluções para um consumidor que tem cada vez mais de tudo — menos tempo!

Da mesma forma, há uma dramática mudança envolvendo o próprio trabalho, com menos tempo nos escritórios, o que está reconfigurando deslocamentos e locais de compra e consumo de produtos, serviços e mesmo marcas.

Uma das mais dramáticas mudanças envolve a frequência às lojas, que se convertem no que caracterizamos como Hub OmniPDX, potencializados pela IA, como mostramos em recente artigo focado no tema.

O ainda mais empoderado omniconsumidor, que emerge desse cenário, é mais focado em conveniência e valor, e isso altera, de forma relevante, a participação das vendas pelo e-commerce no conjunto das vendas do varejo no mundo, precipitando uma dimensão de competitividade sem precedentes.

Nos Estados Unidos, esse percentual está em 16%, enquanto no Brasil gira em torno de 10% a 12%. Mas, na China, expoente da evolução desse canal, o percentual está na faixa de 48%, e, na Coréia, a mais ocidentalizada economia da Ásia, é próximo de 30%. Esses números podem ter alguma variação, segundo a fonte dos dados, mas são essas referências as mais atuais. E, em todos mercados, há um processo de expansão.

O que esperar da NRF 2026?

Haverá muita discussão envolvendo tudo o que diz respeito à Inteligência Artificial como instrumento de diferenciação, personalização, racionalização e melhoria de competitividade. É inevitável, e a feira deverá ser a mais clara constatação dessa realidade.
Da mesma forma, haverá a supervalorização da experiência como elemento de atração e retenção de consumidores cada vez mais orientados para valor e conveniência.

Em todos os aspectos, a apresentação e a discussão desses temas, neste momento, longe do cotidiano das operações dos negócios, de forma abrangente e com visões diversas, tornam o evento um daqueles momentos mágicos para imergir em outras perspectivas e repensar nossa realidade, o futuro dos negócios e nosso próprio papel como profissionais, executivos, empresários e líderes.

É a certeza de que precisamos nos preparar para analisar, discutir, vivenciar e debater para estarmos mais preparados para o que percebemos, sentimos e o que pressentimos, porém, de forma muito mais intensa como nunca foi antes nesses 40 anos.
E para isso fica o convite.

 

*Marcos Gouvêa é diretor-geral da Gouvêa Ecosystem

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