COP30 em Belém: Amazônia como palco da nova gestão climática global
Brasil se prepara para sediar a COP30 e propõe um modelo inovador de ação coletiva que pode redefinir o papel do setor privado na transição climática
Rafa Neddermeyer/ COP30 Brasil Amazônia/ PR
A 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudança do Clima marca um ponto de virada na forma como o Brasil se posiciona frente à crise climática global. Em um cenário de eventos extremos, pressão sobre biomas e urgência por soluções concretas, o país propõe uma abordagem que conecta diplomacia, inovação e impacto local, com destaque para o protagonismo empresarial e a justiça climática.
No centro da proposta está a ideia de que a ação climática é também uma oportunidade econômica. A COP30 reconhece o setor privado como motor da inovação e da implementação, e propõe um ciclo de adoção da sustentabilidade que vai além do imperativo moral. Empresas inovadoras já reposicionam seus modelos com base na descarbonização e inclusão, enquanto a chamada “maioria inicial”, com grande potencial de escala, precisa de segurança institucional e incentivos práticos para aderir. Fundos verdes, mercados de carbono e marcos regulatórios estáveis são apontados como catalisadores essenciais.
Essa mobilização se articula com a Agenda de Ação, que organiza compromissos voluntários de atores não-estatais em seis eixos temáticos: energia e transporte; biodiversidade e bioeconomia; agricultura e segurança alimentar; infraestrutura urbana e água; desenvolvimento humano; e questões transversais como financiamento, tecnologia e governança. A Fundação Dom Cabral (FDC), por exemplo, atua como hub que conecta os diferentes atores públicos, privados e do terceiro setor em sua participação no evento, liderando iniciativas que conectam o setor agropecuário à pauta climática, mostrando o potencial do Brasil como referência global em práticas sustentáveis.
A presidência brasileira da COP30 propõe um novo olhar ao modelo tradicional das conferências climáticas e lança o Mutirão Global, uma iniciativa inspirada na cultura brasileira de esforço coletivo. A proposta é mobilizar escolas, empresas, governos locais e organizações da sociedade civil para registrar e compartilhar ações climáticas, promovendo corresponsabilidade e engajamento prático.
Outro eixo central da conferência será a justiça climática, que coloca as pessoas no centro da transição. O Brasil defende que a mudança climática não pode ser tratada apenas como um problema técnico, mas como uma questão social que afeta diretamente o acesso à moradia, saúde, água e alimentação. A escolha de Belém como sede da COP30 é simbólica e estratégica: uma cidade vulnerável ao aumento do nível do mar e aos eventos extremos, que representa os desafios reais enfrentados por milhões de brasileiros.
Expedição Road to COP30
“É muito importante conectar o discurso global à realidade local e, por isso, a FDC participa da expedição “Road to COP30”, que percorre biomas e cidades brasileiras documentando histórias de adaptação e resiliência”, explica Paulo Guerra, diretor de programas de Gestão Pública da FDC. Junto com outros pesquisadores mineiros, ele vai percorrer cerca de 3 mil quilômetros até Belém – a expedição começa em Belo Horizonte -, registrando iniciativas que já enfrentam os impactos da crise climática.
Segundo Guerra, a COP30 será mais do que uma conferência: será um laboratório de gestão climática, inovação social e articulação entre governos, empresas e comunidades. “Será um momento crucial para o Brasil conseguir transformar compromissos em ações concretas e mostrar ao mundo que Belém, a Amazônia e todo o país tem muito a ensinar sobre corresponsabilidade, pragmatismo e protagonismo climático”, conclui.

