Ações para um varejo inclusivo promovem atendimento digno e responsável a autistas, além de fidelizar consumidores
A demora em filas, o barulho e a quantidade de informações sensoriais em lugares comerciais podem representar um grande incômodo a um portador de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em alguns casos, o excesso de informações dos ambientes pode até desencadear uma crise de ansiedade em quem possui a condição.
Preocupados com a acessibilidade para todas as pessoas que frequentam o comércio, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Rondonópolis, o projeto Autismo na Escola e a Associação de Pessoas com Transtorno Autista desenvolveram uma campanha para a inclusão desse público em ambientes comerciais. O foco é garantir aos autistas o direito de atendimento prioritário, assim como já acontece com idosos, gestantes, pessoas com deficiência ou acompanhadas de crianças de colo.
Obedecendo à legislação municipal, as placas de sinalização do atendimento prioritário agora deverão trazer também o símbolo do autismo: um laço colorido. Para conscientizar a população e as empresas sobre seu significado, o projeto tem sido divulgado na imprensa e em campanhas nas redes sociais e será alvo de discussão em palestras na semana mundial de conscientização do autismo.
A medida já começa a ser adotada em alguns estabelecimentos da cidade. É o caso da Rede Tropical de Supermercados, que incluiu o símbolo do autismo em suas oito unidades. De acordo com seu diretor de Marketing, Thiago Sperança, a adoção não é apenas uma obrigação legislativa, mas traz igualdade. “Além de ser um direito, a inclusão dos autistas no atendimento prioritário dá mais dignidade e respeito. É uma forma de tratar com igualdade todos os nossos consumidores”, ressalta.
Como o autismo não está visualmente estampado no rosto de quem vive no espectro, diferentemente de outras deficiências, muitas vezes essas pessoas não recebem o atendimento necessário. Ainda assim, para o atendimento ser realizado da melhor forma possível, os colaboradores e operadores de caixa da rede de supermercados receberão um treinamento específico, além de serem instruídos a tentar identificar aqueles clientes que possuem o transtorno e proceder com um tratamento diferenciado.
“Instruímos nosso pessoal a agir com mais calma e conversar de maneira mais suave. O importante é interagir com eles e dar o suporte de que necessitam. É indispensável que estejamos todos um pouco mais atentos”, destaca Sperança.
Para a superintendente da Associação Brasileira de Autismo (ABRA), Ana Maria Serrajordia, evitar todos os incômodos que existem em locais públicos é impossível, mas esse é um passo importante para a inclusão da pessoa com autismo. “Muitos autistas podem usufruir muito bem do convívio social, mas têm uma dificuldade enorme em esperar em filas. Nessas horas, a gentileza e disposição em ajudar são sempre recursos que funcionam”, explica.
Varejo inclusivo
A discussão sobre acessibilidade vai além do atendimento prioritário. Algumas empresas varejistas já estão adaptadas para atender a pessoas com deficiência física ou mental. Essas lojas acabam tendo preferência, em razão do investimento em rampas, banheiros com barras de apoio e provadores maiores.
O presidente da CDL Rondonópolis, Neles Walter Ferreira, destaca a importância de um varejo inclusivo e com profissionais capacitados para o atendimento. “Há casos de empresas que oferecem até mesmo fones de ouvido para pessoas com autismo. Ações de inclusão como essa impactam diretamente no varejo, tanto no âmbito social quanto na fidelização dos clientes. É uma forma de inclusão e responsabilidade no atendimento dos diferentes públicos”, destaca.
Dicas para um varejo inclusivo
– Ofereça ajuda.
– Tenha um atendimento de qualidade.
– Adapte equipamentos e instalações.
– Deixe as sinalizações em local visível.
Confira outras dicas na cartilha do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), acessando: https://goo.gl/PGb3mi
Data mundial

O dia 2 de abril foi instituído pela Organização das Nações Unidas em 2008 como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. O autismo é uma síndrome que afeta vários aspectos da comunicação, além de influenciar também no comportamento do indivíduo. Segundo dados do CDC (Center of Deseases Control and Prevention), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, existe hoje um caso de autismo a cada 110 pessoas. Dessa forma, estima-se que o Brasil, com seus 200 milhões de habitantes, possua cerca de 2 milhões de autistas. São mais de 300 mil ocorrências só no estado de São Paulo.