24 out, 2025
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Como serão as empresas do futuro?

No futuro, as organizações irão mudar seu modelo de negócios para incluir o desenvolvimento de pessoas como pilar primordial

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“O varejo do futuro será invisivelmente inteligente”, afirma Fábio Neto, da StartSe

Se fizermos um exercício de imaginação, podemos nos deslumbrar com visões de robôs andando pelos espaços, preenchidos por outros robôs, alguns poucos humanos executando atividades nobres e outros em tarefas nas quais não vale a pena designar robôs para fazerem. Porém, não é desse tipo de futuro que este artigo trata, mas, sim, qual deve ser a essência das empresas do futuro. Nesse sentido, vejo três essências combinadas: tecnologia, aprendizado, saúde.

No futuro, todas as empresas serão de tecnologia

Poucas coisas estão tão claras quanto o avanço tecnológico acelerado que temos experimentado. Nenhum tipo de organização escapa: de um pequeno comércio a uma grande multinacional, todos vivem diariamente o desafio de se manterem atualizados e colherem os benefícios – ou evitarem as armadilhas – que as novas tecnologias proporcionam. Não podemos mais falar em tendência, essa mudança já ocorreu e continuará em curso indefinidamente, ou seja, não sabemos “onde vai parar e no que isso vai dar”.

Há muitos anos, escutei o CEO de um grande banco internacional dizer que “no futuro, não apenas os bancos, mas todas as empresas serão de tecnologia”. Naquele momento, pouco experiente, duvidei. Não mais. Na verdade, em um futuro muito próximo, todas as empresas serão efetivamente empresas de tecnologia, ainda que tenham um suposto core business não tecnológico, pelo simples fato de que se não se tornarem empresas de tecnologia ficarão para trás comendo a poeira da concorrência e acabarão desaparecendo do mercado.

Com o que eu chamo de “apagão da mão-de-obra” que estamos vivendo, é impossível falar de produtividade e inovação sem falar de tecnologia, automação e IA. Nenhum negócio vai crescer de forma sustentável se não conseguir escalar seus ativos e inovar em seu próprio modelo, reduzindo a dependência de recursos humanos (cada vez mais escassos), e dando mais agilidade e flexibilidade aos processos internos para produzir propostas de valor aos clientes que sejam realmente diferenciadoras.

No futuro, todas as empresas serão escolas

⁠Gosto de definir “empresa” como um conjunto de pessoas que se organizam para produzir algo que sozinhas não conseguiriam. Nesse sentido, e no contexto atual, não me parece muito difícil advogar que o ativo mais valioso de uma empresa são as pessoas e seus funcionários. Porém, a realidade apresenta enormes desafios para os líderes das empresas. 100% dos CEOs com quem tenho falado nos últimos anos colocam “pessoas” como primeira ou segunda prioridade. Os motivos são: “nunca foi tão difícil atrair pessoas boas”; “nunca foi tão difícil segurar os talentos na empresa”; “nunca precisamos tanto desenvolver as pessoas”.

O mercado de trabalho brasileiro, onde a taxa de desemprego atingiu uma baixa histórica de 6,9% no segundo trimestre de 2024, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), torna cada vez mais difícil para as empresas encontrar e reter trabalhadores qualificados, especialmente porque as gerações mais jovens, como a Geração Z, demonstram um nível mais alto de troca de emprego.

Um estudo recente da consultoria Mercer constatou que a taxa de rotatividade anual no Brasil gira em torno de 21%, significativamente superior à média global de 15%. Esse alto nível de rotatividade de funcionários não apenas interrompe a continuidade organizacional, mas também sobrecarrega os recursos das empresas, com o custo estimado de substituição de um funcionário brasileiro estimado em cerca de 1,5 vezes seu salário anual.

Sinais evidentes, portanto, apontam para um acirramento cada vez maior na competição por talentos, em todos os níveis, em praticamente todos os setores. O comportamento das novas gerações ingressantes no mercado de trabalho tende a aumentar a rotatividade e reduzir o tempo de permanência nos empregos. Também podemos esperar uma sofisticação cada vez maior nas tarefas dos colaboradores, à medida que a digitalização, automação, robotização e IA cumprem as tarefas rotineiras.

Não há, portanto, um caminho melhor a ser seguido pelas empresas e organizações globais, regionais e locais do que se transforarem em verdadeiras escolas.

As empresas do futuro irão mudar seu modelo de negócio para incluir o desenvolvimento de pessoas como pilar primordial, irão adotar uma abordagem tipo “empresa-escola” (ou, como costumo dizer, “máquinas de formar pessoas, e não tritura-las”), com amplos e inovadores programas de treinamento de funcionários.

Nas empresas do futuro, os colabores poderão rapidamente aprender sobre suas tarefas e adquirir competências para realizá-las, de forma cada vez mais eficiente. Empresas que se desenvolvam dentro desse paradigma podem esperar uma capacidade maior de formar mais pessoas em maior velocidade, com a consequente redução no turnover, maior tempo de permanência, menor absenteísmo, o que deverá levar, por óbvio, a processos e operações internas mais eficientes, produtos e serviços mais adequados ao mercado, clientes melhor atendidos e satisfeitos e, no bottom line, melhores resultados financeiros.

No futuro, todas as empresas serão instituições de saúde

Nos últimos anos, a questão da saúde mental e física ganhou destaque nas discussões sobre bem-estar no ambiente de trabalho.

Com o aumento dos casos de transtornos mentais e a crescente pressão por produtividade, as empresas têm se deparado com um desafio: como melhorar a qualidade de vida de seus colaboradores e, consequentemente, aumentar a produtividade e a satisfação geral no trabalho.

A pandemia de COVID-19 só exacerbou essa necessidade, ao trazer consigo uma série de desafios sem precedentes que impactaram profundamente diversos aspectos da vida humana, incluindo a saúde mental e física. No futuro, nada distante, toda empresa deverá se tornar uma instituição focada na promoção da saúde mental e física de seus colaboradores e familiares, integrando essa prioridade em sua cultura organizacional e estratégia corporativa.

Historicamente, a saúde mental foi um tema relegado a um segundo plano nas discussões corporativas. Até recentemente, as empresas não reconheciam a importância de cuidar do bem-estar mental de seus funcionários. Entretanto, a crescente evidência de que a saúde mental está diretamente relacionada à produtividade e ao engajamento dos colaboradores mudou essa perspectiva.

Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) revelam que 18,6% da população brasileira sofre de ansiedade e 9,3% apresentam sintomas de depressão. Esses números, em conjunto com a evidência de que ambientes de trabalho que priorizam a saúde mental têm colaboradores mais produtivos, podem ser vistos como catalisadores para as mudanças que se aproximam.

A transformação das empresas em instituições de promoção da saúde mental e física não é apenas uma tendência, mas uma necessidade emergente. Assim, ao reconhecer que a saúde mental é uma responsabilidade coletiva, as empresas estão começando a adotar práticas que englobam o bem-estar emocional e físico como parte de sua missão. A ideia é que, além de cumprirem suas obrigações trabalhistas, as empresas se tornem ativamente responsáveis pela saúde e bem-estar de seus colaboradores e de suas famílias.

Essa mudança se reflete na implementação de variadas práticas que abrangem bem-estar emocional, programas de promoção da saúde física e prevenção de doenças e redução de dependências e estilo de vida saudável.

Aos leitores, empresários, empreendedores, executivos, termino com algumas “questões-gatilho”:

  • Se o Sundar Pichai (CEO do Google fosse conselheiro ou consultor da minha empresa, o que ele certamente faria?
  • Se o Sidney Klajner (cirurgião e presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein) fosse consel
  • Se o Jonathan Haidt (psicólogo e professor e Liderança Ética na Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque) fosse conselheiro ou consultor da minha empresa, o que ele certamente faria?

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