20 maio, 2024
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Culpa do burnout é do local de trabalho, não do pessoal

Jornalista especializada em locais de trabalho e psicóloga social defendem que as empresas devem zelar pelo bem-estar dos funcionários e citam pesquisa da Gallup com os principais motivos de estresse

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Burnout no trabalho

Muitos tendem a pensar que o burnout está ligado ao comportamento do funcionário e sua incapacidade de dizer “não”. A coisa começou a mudar de figura com o reconhecimento oficial da Organização Mundial de Saúde (OMS) do burnout como algo evitável e destinar a responsabilidade pela gestão do bem-estar dos trabalhadores aos empregadores, conforme reportagem da Harvard Business Review.

Embora crie um novo paradigma, a iniciativa da OMS gerou muita incompreensão. A OMS incluiu o esgotamento laboral na sua Classificação Internacional de Doenças (CID-11) e imediatamente o público assumiu que o esgotamento seria considerado uma condição médica. A OMS lançou então um esclarecimento afirmando: “O burnout está incluído na 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) como um fenômeno ocupacional, não como uma condição médica – razões pelas quais as pessoas contactam os serviços de saúde, mas que não são classificados como doenças ou problemas de saúde.”

Gallup cita os cinco principais motivos de esgotamento

A reportagem da Harvard Business Review cita a maior especialista em burnout, Christina Maslach, psicóloga social e professora emérita de psicologia na Universidade da Califórnia, Berkeley. Segundo ela, estamos atacando o problema do ângulo errado. O problema está nas empresas e não nos funcionários. Maslach é uma das três pessoas responsáveis ​​pelo padrão ouro de medição de burnout – o homônimo Maslach Burnout Inventory (MBI) – e coautora da Pesquisa de Áreas de Vida Profissional.

Para Maslach, uma pesquisa realizada pela Gallup com 7.500 funcionários em tempo integral descobriu que os cinco principais motivos para o esgotamento são:

1. Tratamento injusto no trabalho

2. Carga de trabalho incontrolável

3. Falta de clareza de função

4. Falta de comunicação e apoio do gestor

5. Pressão de tempo irracional

Efeitos do burnout são assustadores

Na reportagem da Harvard Business Review, assinada por Jennifer Moss, especialista em locais de trabalho, oradora internacional, jornalista premiada e autora dos best-sellers “Unlocking Happiness at Work” (Kogan Page, 2016) e “The Burnout Epidemic” (HBR Press, setembro de 2021), a profissional traça um panorama assustador dos efeitos do burnout.

Segundo o artigo, quando os investigadores de Stanford analisaram como o stress no local de trabalho afeta os custos de saúde e a mortalidade nos Estados Unidos, descobriram que levou a gastos de quase US$ 190 bilhões – cerca de 8% dos gastos nacionais com saúde – e a quase 120.000 mortes por ano. Em todo o mundo, 615 milhões sofrem de depressão e ansiedade e, de acordo com um estudo recente da OMS, isso custa à força de trabalho global cerca de 1 bilhão de dólares em perda de produtividade todos os anos. Os papéis motivados pela paixão e pelos cuidados, como os de médicos e enfermeiros, são alguns dos mais suscetíveis ao esgotamento, e as consequências podem significar vida ou morte; as taxas de suicídio entre os cuidadores são dramaticamente mais altas do que as do público em geral – 40% mais altas para os homens e 130% mais altas para as mulheres.

Para Jennifer Moss, as organizações têm uma chance, agora mesmo, de consertar esse tipo de coisa. O esgotamento é evitável. Requer uma boa higiene organizacional, melhores dados, perguntas mais oportunas e relevantes, um orçamento mais inteligente e a garantia de que as ofertas de bem-estar sejam incluídas como parte da estratégia.

No Brasil, o Ministério da Saúde trata a síndrome de burnout como “doença”

No Brasil, o site do Ministério da Saúde trata a “síndrome de burnout” como um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. A principal causa da “doença”, segundo o Ministério, é justamente o excesso de trabalho. Segundo o site, esta síndrome é comum em “profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, dentre outros”.

Segundo o Ministério da Saúde, a “síndrome de burnout” também pode acontecer quando o profissional planeja ou é pautado para objetivos de trabalho muito difíceis, situações em que a pessoa possa achar, por algum motivo, não ter capacidades suficientes para os cumprir. Essa síndrome pode resultar em estado de depressão profunda e por isso o Ministério recomenda procurar apoio profissional no surgimento dos primeiros sintomas.