15 nov, 2025
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Longevidade tem potencial estratégico, aponta estudo 

Aumento da expectativa de vida pode estimular fortalecimento de equipes intergeracionais, com aumento comprovado de produtividade

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Longevidade tem potencial estratégico, aponta estudo 

A população mundial com mais de 60 anos deverá chegar a 2,1 bilhões de pessoas em 2050, dobrando o número de idosos apontados pela ONU em 2020. Os números mostram que se trata de uma tendência mundial, inclusive no Brasil, onde está mais acentuada.

Apesar dos desafios, a longevidade tem um potencial estratégico fora e dentro do mercado corporativo. Explicando: a transição demográfica é uma oportunidade única para fortalecer sistemas sociais, infraestrutura e equidade financeira, redefinindo economias, sociedades e ambientes de trabalho. Mais do que isso, ela impulsiona a criação de uma “economia prateada”, na qual o profissional com mais idade é visto como um agente de transformação, valorizando sua experiência e saberes.

Intergeracionalidade

No mercado de trabalho, a convivência de gerações diferentes (intergeracionalidade) tem métricas importantes, entre elas a inovação, que pode ser incrementada em até 20%, e a produtividade, que tem potencial para aumentar até 25%.

A mesma intergeracionalidade, mesclando os chamados baby boomers, geração X, millennials e geração Z no ambiente de trabalho, é enriquecedora e pode melhorar o clima organizacional e a retenção de talentos.

Todas as informações acima são do relatório Diversidade & longevidade na pauta dos investimentos sociais privados, lançado em 2025 pela Fundação Dom Cabral (FDC). O documento faz parte de uma série de publicações organizadas pela FDC Longevidade, iniciativa pioneira da instituição.

Oportunidades

Ainda segundo o relatório, a combinação de gerações mostra um cenário de oportunidades, no qual os profissionais mais experientes trazem conhecimento e visão estratégica, enquanto os mais jovens agregam dinamismo e domínio de novas tecnologias.

Um dos destaques dos estudos presentes no documento é a constatação de que a idade é marcador universal de diversidade. Ela é o único fator de diferencial pelo qual todos passam, tornando-a uma experiência universal que conecta as pessoas. O desafio? A longevidade é ainda é pouco explorada nas organizações.

O grande desafio é enfrentar o etarismo, preconceito associado à idade, reconhecendo a longevidade como um eixo relevante nas discussões sobre diversidade e inclusão (D&I). Um dos pontos positivos nessa jornada é o fato de que os programas de diversidade etária para profissionais 50+ e jovens têm crescido constantemente nas empresas brasileiras, na avaliação dos especialistas do report.

Os alertas da ONU sobre o maior envelhecimento da população também estão presentes no relatório, inclusive o fato de que as desigualdades podem ser mais acentuadas dependendo de outros marcadores sociais, como gênero e sexualidade.

Na prática: mulheres recebem menos aposentadoria, idosos negros enfrentam desafios financeiros maiores, e idosos LGBTQIAPN+ podem lidar com maior isolamento social.

Em termos de números, o relatório destaca que na América Latina, as mulheres dedicam três vezes mais tempo ao cuidado não-remunerado do que os homens. No Brasil, 47% das mulheres com mais de 50 anos sentem-se descartadas pelo mercado de trabalho, em comparação com 39% dos homens na mesma faixa etária.

E mais: 32% da população negra com mais de 50 anos, no Brasil, declara que sua renda atual não é suficiente para os gastos, em contraste com 19% da população branca na mesma faixa etária. Em São Paulo, homens negros com mais de 80 anos enfrentam mais adversidades financeiras do que homens brancos da mesma idade.

O recorte de renda e classe social também mostra que a desigualdade entre os idosos é maior entre os menos favorecidos. O documento traz dados que indicam que, para 43% dos brasileiros com mais de 50 anos das classes C e D, a sua renda é a única a sustentar a casa, em comparação com 29% das classes A e B.

Outra informação relevante é que 48% dos brasileiros com mais de 50 anos das classes C e D sentem-se descartados pelo mercado de trabalho, em contraste com 29% das classes A e B.

Iniciativas para inclusão

Além do potencial estratégico da longevidade no mercado corporativo e dos desafios que afetam a população com mais idade, o relatório aponta iniciativas que podem ajudar na inclusão dela de forma geral.

Uma delas refer-se aos investimentos sociais que mobilizam recursos privados para fins públicos, atuando como um catalisador estratégico para soluções inovadoras em diversas áreas. O Fundo do Idoso, criado pela Lei nº 12.213/2010, é um desses mecanismos, que permite a captação de recursos de doações (pessoas físicas e jurídicas) para financiar projetos que promovem a qualidade de vida e o bem-estar de idosos em situação de vulnerabilidade.

Apesar de seu potencial, o Fundo do Idoso é menos utilizado do que outros mecanismos de incentivo fiscal (como a Lei Rouanet) e não possui grande visibilidade no portfólio de investidores sociais privados, que priorizam outros marcadores de diversidade.

De acordo com o relatório, os valores destinados aos Fundos do Idoso têm crescido, especialmente as doações de pessoas físicas via Imposto de Renda, indicando um potencial ainda não totalmente explorado.

Outra iniciativa é o programa BASIS, da Fundação Dom Cabral, um exemplo de ação viabilizada pelo Fundo Municipal do Idoso de Belo Horizonte (MG), capacitando lideranças sociais que atuam com a população 60+.

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