Médias empresas altamente produtivas geram mais lucro por colaborador
Gestão, tecnologia, processos e pessoas são as grandes alavancas da produtividade superior
Shutterstock
A radiografia das médias empresas (ME) brasileiras mais produtivas mostra dois indicadores importantes: sua geração de lucro operacional por colaborador supera em mais de 160% a média da população de empresas de mesmo porte; já, quando medida a produtividade do gasto total com colaboradores, o desempenho desse grupo seleto de companhias está 120 acima da média.
Além da performance muito superior à média geral, há uma forte variação de produtividade entre os diferentes tamanhos de empresas. As “médias-pequenas” de todos os setores tendem a produzir muito menos resultado por colaborador do que empresas “médias-grandes”. Essa distância é menor no setor de serviços, porém ainda relevante.
O faturamento maior explicaria o resultado esperado, uma vez que ele tende a ser acompanhado de ganhos de escala. Os volumes superiores de recursos para investimento também pesam nessa equação, além de outros benefícios.
O tamanho das MEs também apresenta um paralelo evidente com o seu tempo de existência – ou seja, as maiores são mais antigas. Porém, as MEs de serviços e as comerciais de alta produtividade estão entre as mais jovens dos seus respectivos setores. Esse é um dado extremamente relevante. Ele mostra que as empresas devem evitar a estagnação – ganhar tempo de existência sem aumentar sua produtividade – a todo o custo.
A produtividade por colaborador e por gasto por colaborador é outro indicador que varia bastante entre os setores. Enquanto as MEs mais produtivas do comércio e de serviços produzem em torno de R$ 280 mil de EBITDA por colaborador, os melhores negócios industriais geram apenas R$ 222 mil.
A relação muda quando se considera a produtividade por gasto em mão de obra (MO). Nesse caso, o setor de serviços cai para o último do ranking (R$2,11/R$1MO), atrás da indústria (R$2,26/R$1MO) e do comércio (R$2,41/R$1MO). Esse dado reflete o custo do trabalho no setor de serviços, que tende a ser mais especializado e caro.
Estudo com parâmetros internacionais
Os resultados citados acima são do primeiro estudo com dados primários focado na produtividade das médias empresas brasileiras. O levantamento, realizado pelo Centro de Inteligência das Médias Empresas da Fundação Dom Cabral (FDC), foi consolidado em um ebook sobre o tema.
A singularidade do estudo também acontece pela estruturação da metodologia empregada: a medição da produtividade considera a relação do EBITDA por colaborador, que o aproxima das métricas agregadas de PIB por pessoal ocupado. Ao mesmo tempo, trata-se de uma medida mais rigorosa e ajustada às atividades das empresas.
Seis fatores relevantes foram analisados como impulsionadores de produtividade no estudo. São eles: capacidade de gestão, capital humano e gestão de RH, tecnologia, processos, perfil da empresa e ambiente externo.
Para fins comparativos com as médias empresas no contexto internacional, a metodologia utilizada está alinhada com a adotada pela McKinsey & Company, em estudo de produtividade publicado em maio de 2024.
Produtividade por setor
As MEs industriais de alto desempenho mostram uma produtividade 1,6 vezes maior do que a média do setor. Além disso, elas têm uma capacidade superior de gerir estoques e negociar melhores prazos de pagamento com seus fornecedores. A capacidade fabril também é 4% maior do que a média do setor, sinalizando uma capacidade superior de gestão das suas operações. Suas três maiores alavancas de produtividade são a maior competência de gerenciamento, a aplicação de tecnologias – especialmente para apoiar a tomada de decisão – e a profissionalização dos seus processos.
No comércio, as MEs do topo da lista são 1,4 vezes mais produtivas à média do setor. Suas principais avalancas de produtividade são a gestão mais profissionalizada e o uso de tecnologias digitais, incluindo a jornada digital do cliente. Na pesquisa da FDC, o que chama a atenção, entre as MEs comerciais, é a capacidade de explorar, com enorme eficiência, os espaços comerciais. As empresas mais produtivas geram mais do que o dobro do EBITDA por m² alcançado pelos seus pares no setor. Esses resultados sinalizam o uso intensivo dos modelos de negócios digitais conhecidos por reduzir substancialmente os investimentos em lojas físicas.
A autopercepção desses negócios também é melhor para a satisfação dos seus clientes (5% a mais do que a média do comércio).
Já as melhores MEs de serviços são 1,8 vezes mais produtivas do que os seus pares de setor. Seus propulsores de produtividade são seus talentos, melhor preparados e incentivados, e o investimento mais intensivo em tecnologia.
Em termos de autopercepção, as MEs mais produtivas no setor de serviços acreditam garantir maior satisfação de seus clientes e um menor custo com ineficiências gerais, na comparação com seus concorrentes.
De modo geral, os resultados da pesquisa da FDC deixam claro que o caminho para as médias empresas aumentarem substancialmente a sua produtividade passa, necessariamente, pela profissionalização contínua da gestão, a integração mais intensiva de novas tecnologias no negócio, a otimização de processos e a qualificação dos seus colaboradores.