Por que empresas tradicionais rejeitam a transformação digital?
Empresas tradicionais do mesmo ramo podem reagir a mudanças digitais quando elas contradizem sua estrutura atual de conhecimento
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Dois estudiosos dedicaram-se a entender o motivo pelo qual as empresas tradicionais rejeitam a transformação digital e a inovação. As respostas foram amplas, mas começam pelo fato de que a rejeição ocorre quando as guinadas digitais contradizem as estruturas de conhecimento das organizações. Em outras palavras, as empresas tradicionais rejeitam a transformação por que não têm conhecimento o suficiente para perceberem o que ganhariam com elas.
As avaliações foram divulgadas em estudo publicado no site ScienceDirect por Erik Fernandes, conferencista da Fundação Dom Cabral (FDC) e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Ana Burchart, professora da FDC e professora associada visitante na Aarhus University, na Dinamarca. Os autores concluíram, a partir dos casos investigados, que a falha em perceber situações de necessidade de disruptura tecnológica e oportunidade de investimentos pode levar a grandes prejuízos para as empresas.
Métodos usados nos estudos
Os autores desenharam um esquema de análise baseado em dois estudos sequenciais. O primeiro emprega a Delphi’s Tecnique, um método utilizado para estimar a probabilidade e o impacto de acontecimentos futuros e incertos, envolvendo vários especialistas para construir cenários de médio prazo para a indústria de educação de línguas. O segundo é um estudo de comparação qualitativa com 11 empresas tradicionais, no mesmo setor. Ambos os estudos usaram o attention-based view (ABV), a chamada visão baseada em atenção.
O objetivo da pesquisa foi investigar situações nas quais mudanças na tecnologia são rejeitadas, por não serem vistas como virada estratégicas. Ao contrário: foram vistas como ameaça. Os autores abordaram as expressões “atenção” e “sentir” para identificar o grau de envolvimento das empresas com as mudanças tecnológicas, e também para entender porque as organizações são reativas.
Atenção e sensibilidade
A atenção está entre os fatores determinantes que explicam porque algumas empresas tradicionais brigam para se adaptar às mudanças tecnológicas, mas eventualmente fracassam. No estudo em questão, várias companhias mostraram uma espécie de “miopia organizacional”, falhando em prestar atenção em tecnologias emergentes e favorecendo as já existentes, segundo os pesquisadores.
Outras organizações se demonstraram incapazes de mudar o raciocínio (mindset cognitivo) e expandir a atenção para novos modelos de negócio digital. Além disso, houve empresas que rejeitaram oportunidades digitais, considerando-as como “objetivos não válidos de perseguir”.
“A atenção modela a adaptação das empresas tradicionais porque ela gera sua agenda estratégica. Ao redirecionar suas atividades de busca relacionadas ao desenvolvimento tecnológico e reação do mercado, a atenção influencia a capacidade de sentir, que é dinâmica e reflete aprendizado e estímulo para filtrar o que vem de fora”, explicam os autores.
Desafio das mudanças
Em matéria assinada na plataforma GazzConecta, ligada à Gazeta do Povo, Breno Barros, CTO da consultoria de gestão Falconi, chama a atenção para a implantação de novas tecnologias representar desafios que envolvem mudanças de cultura e necessidade de investimentos pelas empresas.
O executivo citou os resultados de uma enquete feita pela Falconi no LinkedIn. Do total, 52% mostraram resistência e dificuldade de adaptação. Custos para implementação (26%) e capacitação dos times (22%) também foram preocupações citadas pelas empresas.
Breno Barros argumentou que as inovações podem gerar mais produtividade e eficiência, trazendo maior retorno financeiro. E as empresas precisam superar essas barreiras, estabelecendo abordagem estratégica e cuidadosa, sem deixar de lado o foco na geração real de valor e de impacto econômico nas organizações.