“Curiosidade” e “dinheiro fácil”: o que motiva o brasileiro a apostar online
Pesquisa da CNDL e SPC Brasil revela que 1 em cada 3 consumidores digitais já realizou apostas online, impulsionados pela busca por emoção, ganhos rápidos e influência social
Envato
A promessa de lucro rápido, a emoção de apostar e a curiosidade diante de um mercado em expansão estão entre os principais gatilhos que levam milhões de brasileiros a mergulhar no universo das apostas online. Segundo levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offerwise Pesquisas, 33% dos consumidores digitais realizaram algum tipo de aposta esportiva ou jogo de azar pago pela internet nos últimos 12 meses, o que representa cerca de 39,5 milhões de pessoas.
O estudo revela que 54% dos apostadores optam por apostas esportivas, enquanto outros se dividem entre slots (28%), roletas (22%), caça-níqueis (20%) e o popular “jogo do avião” (15%). O perfil majoritário é formado por homens jovens e conectados, que veem nas plataformas digitais uma forma rápida e acessível de entretenimento e, para muitos, uma oportunidade de retorno financeiro.
Curiosidade, adrenalina e o mito do ganho fácil
Entre as principais motivações para iniciar nas apostas, 35% dos entrevistados afirmam ter começado por curiosidade, enquanto 22% foram atraídos pelo desejo de ganhar dinheiro fácil e rápido. Outros 22% mencionam a emoção e a diversão como fator determinante, mostrando que o aspecto lúdico se mistura ao impulso financeiro.
Essa combinação de emoção, expectativa e recompensa imediata faz parte do que especialistas chamam de “economia da dopamina”, em que aplicativos e jogos são projetados para estimular continuamente o prazer e a sensação de controle, ainda que o risco real de perda seja alto.
A facilidade de acesso e a conveniência dos meios de pagamento, especialmente o PIX, utilizado por 76% dos apostadores, reforçam o comportamento impulsivo e tornam o jogo um hábito rotineiro. A pesquisa mostra que 24% jogam toda semana, 18% de duas a três vezes por semana e 11% todos os dias.
Embora o gasto médio mensal com apostas seja de R$ 187, o impacto financeiro pode ser expressivo, sobretudo entre as classes C, D e E. Quase 20% dos participantes afirmam ter comprometido a renda com apostas, e 17% já deixaram de pagar contas para continuar jogando.
Emoção, risco e o limite entre diversão e dependência
A linha que separa o entretenimento do comportamento de risco é tênue. O levantamento mostra que 37% dos apostadores já tentaram parar ou reduzir o tempo gasto nas plataformas, mas não conseguiram, um indicativo de que o vício em jogos digitais vem ganhando força no país.
Com campanhas publicitárias cada vez mais sofisticadas e o uso massivo de influenciadores e atletas, as plataformas de apostas se consolidaram como parte do cotidiano digital, mas ainda sem a devida consciência sobre seus impactos emocionais e financeiros.
Diante do avanço do setor, a pesquisa aponta uma demanda crescente por campanhas de conscientização e regulação mais rígida. Quase metade dos entrevistados defende restrições à propaganda e iniciativas educativas para prevenir o vício, especialmente entre os jovens.
Mais do que uma questão de consumo, o fenômeno das apostas online se tornou um desafio social e econômico. O dado mais revelador talvez seja o que traduz o comportamento inicial de milhões de brasileiros: a curiosidade virou hábito, e o desejo de lucro fácil vem custando caro a muitas famílias.

