24 jan, 2025
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Educação financeira traz expectativa para classes D e E

Especialista explica como classes populares e instituições bancárias podem se aproximar

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Educação financeira traz expectativa para classes D e E

Pode parecer impossível, mas as classes D e E podem gerir melhor seu dinheiro e se aproximar de investimentos, empréstimos e empreendedorismo. A chave é a educação financeira, defendida por Bia Santos, CEO e fundadora da Barkus, uma edtech que visa democratizar o acesso a instituições que lidam com dinheiro. Para Bia, não apenas as classes populares perdem com o distanciamento dos bancos e instituições afins, que falam uma língua diferente de sua realidade, como também o próprio mercado financeiro e o país, devido ao número expressivo de pessoas minorizadas.

Atualmente aluna do Executive MBA da Fundação Dom Cabral (FDC), Bia Santos é uma jovem estrela do empreendedorismo e da diversidade. Aos 28 anos, negra e nascida na periferia da cidade do Rio de Janeiro, acumula funções de prestígio: é conselheira da cidade do Rio de Janeiro na área de Equidade e Inclusão e conselheira consultiva do BNDES Garagem, programa de aceleração de negócios sociais. Seu nome também foi incluído na lista Forbes Under 30, que reúne empreendedores de destaque abaixo dos 30 anos.

Nesta entrevista ao Seja Relevante, Bia fala sobre diversidade e conta como a educação financeira pode transformar a vida das classes populares e também das classes média e média alta, que igualmente sofrem com essa lacuna.

Você atua como empresária e conselheira em diversas organizações. Até poucos anos, não era comum uma mulher, negra, vinda da Zona Norte do Rio de Janeiro, estar nessa posição. Como você vê essa mudança?

Quando olhamos para o cenário dos Conselhos, ainda estamos muito atrasados. Ainda é baixíssima a representatividade, principalmente de mulheres negras, o recorte de gênero e de raça. Mas, há um avanço nos ambientes corporativos e hoje a diversidade é uma pauta séria. Isso se espelha na área dos Conselhos.

A diversidade vai para além da questão de justiça social. Ela traz essa perspectiva do diferente, de diversas experiências, visões… Temos percebido o quanto ter essa diversidade, esse olhar diferente, faz com possamos evoluir nas pautas, resolver problemas complexos e, assim, gerar uma bola de neve muito positiva. Então, se hoje temos mais de 50% da população negra, eu espero que mais de 50% das diretorias, dos Conselhos e dos espaços sejam frequentados por pessoas negras. Da mesma forma com as mulheres, das classes sociais. Acho que a gente tem avançado, mas ainda tem bastante trabalho pela frente.

O foco da Barkus é democratizar o acesso à educação financeira, principalmente para os grupos mais vulneráveis. Qual é a importância de olhar para esse público?

Quando analisamos grupos em vulnerabilidade ou minorizados, estamos falando de 90, 95% do Brasil. Então, quando não temos ações voltadas para a educação e para a inclusão desse público no nosso sistema financeiro, estamos falando de uma perda gigantesca. Não para a conquista de um país menos desigual, mas em perda financeira também. Estamos falando da própria economia do país: é preciso fazer a inclusão dessas pessoas para que elas consigam, a partir dos serviços financeiros que evoluíram muito, usufruir disso. Aí entra a educação financeira.

Nós temos, de fato, serviços e produtos que atendem diferentes públicos, inclusive pessoas das classes mais baixas. Mas não temos uma população apta para acessar esses serviços. Então, o meu grande objetivo sempre foi conseguir fazer essa conexão, desmistificar como funciona o sistema financeiro, os produtos e os serviços.

A educação financeira é uma baita chave para acelerar esse processo de aproximação no Brasil. A Barkus foi criada exatamente por esse motivo, trazendo as pessoas para pensar a solução de forma conjunta. Assim, conseguimos desenvolver um produto que tem tido os melhores resultados em comparação a outros no mercado, além da educação financeira, para esse público especificamente.

Precisamos sempre olhar para esse público, porque é com quem as grandes instituições não conseguem se comunicar. A linguagem não bate, tem uma questão de desconfiança, existe uma dificuldade de incluir grupos vulneráveis no nosso sistema. Então, conectamos o meu propósito com uma necessidade de mercado também.