23 set, 2025
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O paradoxo estratégico da IA: construindo o futuro além dos dados do passado

A estratégia empresarial moderna tem como premissa que o sucesso e perenidade dos negócios está na capacidade de criar algo único

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O paradoxo estratégico da IA: construindo o futuro além dos dados do passado

Começo este artigo citando o saudoso Professor C. K. Prahalad, quando dizia que o que impede as empresas de prever o futuro não está necessariamente ligado à nossa incapacidade de conhecer o futuro, embora, evidentemente, isto seja uma verdade. A realidade é que o futuro teima ser, na grande maioria das vezes, diferente daquilo que imaginamos. Segue, afirmando de forma genial, que o truque para nos livrarmos desta armadilha é ver o futuro antes que ele chegue, pois, o futuro não é, para ser imaginado, mas sim, construído.

Em linha com este pensamento, percebemos que o ponto focal da estratégia empresarial moderna tem como premissa fundamental que o sucesso e perenidade dos negócios ancora-se na capacidade das empresas de criar algo único, diferenciado e valioso para seus mercados. De fato, as empresas mais bem-sucedidas nas últimas décadas não apenas responderam às necessidades e desejos de seus clientes, mas estabeleceram novos padrões de interação e reimaginaram o futuro de suas indústrias. Empresas de aparelhos celulares não apenas melhoraram os produtos existentes, mas revolucionaram a forma como interagimos com a tecnologia. Empresas de varejo, por sua vez, se esforçaram para redefinir completamente a experiência de compra através de tecnologias de plataformas de compra online e logísticas de entregas quase que imediatas.

Colocando estas análises como pano de fundo para o cenário empresarial contemporâneo, o que vemos é o surgimento de um dos paradoxos mais intrigantes da era digital: como utilizar a Inteligência Artificial, tecnologia fundamentalmente ancorada no passado, para construir um futuro diferente? As respostas para esta pergunta são muito complexas e, em muitos casos, incompletas ou desconhecidas. Mas vão aí algumas dicas que podem ajudar a você e sua equipe na integração dessa misteriosa e avançada tecnologia à realidade de sua empresa.

1. Compreenda os limites dos dados históricos e amplie esses limites com o seu conhecimento e de sua equipe
Embora a IA seja poderosa para identificar padrões, ela depende de dados passados para fazer previsões. Isso significa que, em contextos de grandes transformações, como crises econômicas ou mudanças de comportamento do consumidor, os resultados podem não refletir a realidade futura. Uma estratégia eficaz é combinar os insights da IA com o conhecimento humano sobre as tendências do setor. Temos acompanhado empresas do setor de turismo utilizando IA para entender padrões de viagens do brasileiro, mas agregando fatores econômicos atuais, como poder de compra e a flutuação do valor das moedas de todo o mundo, para criar novos destinos turísticos jamais imaginados pelos seus clientes tradicionais, resultando em um grande impulsionamento de vendas.

2. Foque em dados e fontes de dados relevantes e atualizados, inclusive procurando além da IA
Não basta ter dados. É fundamental ter os dados certos, relevantes e atuais. Valide regularmente as respostas obtidas nas consultas às ferramentas de IA, para se certificar de que estão sendo obtidas através de fontes de informações atuais e corretas. É importante compreender que nem sempre a IA vai trazer todas as informações que você precisa, e que fontes alternativas devem ser utilizadas para complementar e trazer mais relevância para o que está procurando. É muito comum empresas do setor alimentício, como restaurantes, utilizarem-se de dados de preferências de clientes obtidos por meio de pesquisas in loco, ou redes sociais, para ajustar cardápios e promoções, garantindo que estejam alinhadas ao que os consumidores realmente desejam agora.

3. Teste cenários, simule situações e adapte-se à possíveis mudanças
Ao invés de confiar cegamente nas previsões da IA, use-a como uma ferramenta para testar diferentes cenários. Ferramentas de simulação permitem que você analise como mudanças em variáveis-chave podem impactar o desempenho da sua empresa. Indústrias estão utilizando a IA para simular o impacto da variação do dólar nos custos de suas matérias-primas e decidir as melhores estratégias de relacionamento e desenvolvimento de novos fornecedores e até de novos produtos que possam absorver matérias-primas que não sofram tanto com a variação cambial.

4. Invista em capacitação e integração
A IA jamais substituirá o fator humano; ela o complementa. O seu uso nos negócios é tão importante quanto a capacitação de líderes e equipes para se relacionar bem com esta ferramenta, interpretar, criticar, complementar os resultados por ela fornecidos e integrar essas análises à tomada de decisão. Baseada em dados passados, uma ferramenta de IA pode indicar quais produtos ou serviços estão em alta, mas são as equipes de marketing, vendas e pós-vendas que validam e usam essa informação para criar abordagens personalizadas e fortalecer o relacionamento com o cliente.

5. Equilibre tecnologia com intuição
Por fim, lembre-se de que a IA é uma ferramenta, não uma bola de cristal inquestionável. Muitas decisões empresariais ainda dependem, e sempre vão depender, da experiência, empatia e criatividade – fatores que os algoritmos não conseguem replicar. Nunca subestime seu conhecimento e o conhecimento de sua equipe. Neste contexto, é importante entender que o desafio não está no campo tecnológico, mas, sim, na nossa capacidade de harmonizar coisas. Precisamos encontrar um equilíbrio entre o poder da IA e a preservação de nossa experiência, essência criativa e divergente. Só assim poderemos garantir que o futuro, embora tecnológico, permaneça essencialmente humano.

* Pascoal Martins Carrato, Centro de Inteligência em Médias Empresas da FDC

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