A importância do parcelamento sem juros para a economia
Levantamento do Instituto Locomotiva aponta que Segundo o estudo, boa parte da população usa o parcelamento sem juros para conseguir viver, pagar as contas e ter acesso a itens básicos.
ShutterstockLevantamento do Instituto Locomotiva aponta que Segundo o estudo, boa parte da população usa o parcelamento sem juros para conseguir viver, pagar as contas e ter acesso a itens básicos
A alta da inadimplência fez com que o governo e os bancos cogitassem acabar com o rotativo do cartão, o que impactaria diretamente na opção de parcelamento sem juros. No entanto, essa forma de pagamento faz parte da cultura do brasileiro – diferentemente de países da Europa, onde o pagamento só pode ser feito à vista – e proporciona acessibilidade a produtos ou serviços que muitos consumidores deixariam de comprar, caso não houvesse a modalidade de pagamento.
É o que mostra pesquisa recente do Instituto Locomotiva, realizada a pedido de cinco entidades representativas do setor de Comércio e Serviços, entre elas, a encomendada em parceria com a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas). Segundo o levantamento, 123 milhões de brasileiros afirmaram que desistiriam de uma compra de um produto ou serviço caso o estabelecimento não oferecesse a opção de parcelamento sem juros, o que teria um grande impacto negativo no comércio.
Para o especialista em pesquisa de consumo e opinião pública João Paulo de Resende Cunha (foto), é equivocada a visão de que o parcelamento sem juros é o grande vilão e colabora para o consumismo desenfreado. Segundo o estudo, boa parte da população usa o parcelamento sem juros para conseguir viver, pagar as contas e ter acesso a itens básicos.
“O parcelado sem juros, ao invés de ser um instrumento que leva para o consumismo desenfreado com gasto supérfluos, na verdade, é uma via utilizada muitas vezes para pagar contas fundamentais, como o mercado, a farmácia e outros itens essenciais ou até em momentos de emergência, com gasto que não estava previsto”.
A possibilidade do fim do parcelamento sem juros passou a ser dicutida este ano, após gigantes do setor bancário afirmarem que o parcelamento de compras no cartão de crédito seria o principal responsável pelo alto número de pessoas inadimplentes no país. Há cerca de 66 milhões de brasileiros com dívidas atrasadas, segundo o último indicador de inadimplência da CNDL e o SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito).
Não é apenas sobre comprar
O especialista afirma que, se o parcelamento sem juros não existisse, grande parte da população continuaria tendo a necessidade de dividir o pagamento, sendo forçados a parcelar com juros. O levantamento do Instituto Locomotiva mostrou que 75% afirmaram que só conquistaram grande parte dos seus sonhos porque puderam realizar o parcelamento sem juros no cartão.
Por outro lado, o parcelamento no cartão pode ser algo que vai além do consumo para os consumidores: é uma questão de sobrevivência, principalmente quando ocorre algum imprevisto. Somente 23% dos brasileiros teriam dinheiro disponível para suprir uma despesa de emergência de R$ 500, segundo o estudo.
“O parcelado sem juros entra como uma ferramenta fundamental para que boa parte dessas contas consigam ser pagas, mais ainda quando algo sai do previsto. Caso não houvesse o parcelamento sem juros, as pessoas continuariam tendo que parcelar, e elas parcelariam com juros”, comenta João Paulo Cunha.
As entidades ligadas ao setor de Comércio e Serviços já se movimentam contra a medida, alertando o Ministério da Fazenda que, caso aprovada, a medida prejudicaria significativamente o setor.
O assunto ainda está em discussão, e merece muita atenção do Varejo. E para entender a importância da modalidade de pagamento no país e o impacto negativo que teria na economia o seu fim, a equipe da CNDL convidou João Paulo Resende Cunha, do Instituto Locomotiva, para participar do Varejo S.A Podcast.
Ouça agora o episódio 104, divulgado esta semana:
Confira os dados do estudo do Instituto Locomotiva:
Edição: Fernanda Peregrino
Fotos: Shutterstock e Instituto Locomotiva